Só existe liberdade de expressão para José de Abreu

Em "Felipe Andreoli e os lacradores de esquerda e direita", escrevi que o Twitter é o maior e mais impiedoso moedor de reputações do mercado. Quem é sugado pelas engrenagens sabe que viverá, na melhor das hipóteses, dois ou três dias de cão, com fingidos de todos os tipos arrotando virtudes e bem-quereres para ganhar likes, contatos e contratos.

Nem todos são submetidos a essa selvageria, porém. Se o cancelamento é o gato Tom, José de Abreu é o rato Jerry. Nos últimos anos, o ator da Globo cuspiu em um casal, compartilhou um post agressivo contra a deputada Tábata Amaral e acusou o hospital Albert Einstein de encobrir uma armação para favorecer a eleição de Jair Bolsonaro. O que os veículos de imprensa fiscalizadores de opinião alheia fizeram depois disso tudo? Posts listando as "polêmicas" do global.

Monark e aquele jogador de vôlei ofendido com o filho do Clark Kent são dois contumazes idiotas que sobrevivem, entre outras coisas, da seletividade da imprensa e dos censores das redes sociais. Se uma piada justifica campanhas persecutórias, uma postagem que prega violência física contra uma "adversária política" deveria pautar, no mínimo, a mesma reação. Mas as ONGs, com o perdão do trocadilho que será concluído no próximo parágrafo, dormiram. Placidamente.

Bastante ativo, o Sleeping Giants não fez qualquer crítica ao Grupo Globo por causa das patetices de José de Abreu. Nem pediu para que este ou aquele anunciante -- e ninguém tem mais anunciantes no Brasil do que a TV Globo -- deixasse de comprar breaks ou ações de merchandising nas novelas. Na verdade, José de Abreu está com a reputação tão limpinha que foi incluído na reportagem do "Jornal da Globo" sobre a repercussão da morte do novelista Gilberto Braga.

Só vamos restabelecer um mínimo de ordem na opinião pública quando admitirmos que idiotas de esquerda e de direita merecem o mesmo tratamento. Afinal, idiotas são idiotas.