Felipe Andreoli e os lacradores de esquerda e direita

Há pelo menos 48 horas a carne de Felipe Andreoli é continuamente passada nesse enorme moedor de reputações que é o Twitter. Quem lacra à esquerda, seja sociólogo ou comediante, usa as postagens do apresentador para mostrar que é evoluído desde que nasceu. Quem lacra à direita, seja deputado ou jogador de vôlei, surfa na imagem do ex-CQC para confundir o público com comparações que fariam Jesus ser chamado de Genésio.

A cultura da histeria não é da esquerda ou da direita. Ela é comercial. O jogador de vôlei chocado com o filho de Clark Kent provavelmente não lê uma HQ do Superman há 30 anos, mas soube usar o frenesi das redes para se lançar candidato a qualquer coisa em 2022. Antigamente, as pessoas ficavam peladas e catavam sabonetes na banheira do Gugu -- bons tempos -- para conseguir fama e dinheiro. Hoje, fingem ser politizadas.

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Felipe Andreoli não é racista, homofóbico ou qualquer coisa que o valha. Nem nunca foi. Ninguém é obrigado a gostar das piadas que ele escreveu dez anos atrás no Twitter, mas apregoar que há crime de ódio ali é burrice. Canalhice.

Sempre que eu escrevo que piadas não machucam, alguém fragorosamente responde: "Elas ofendem". De fato, é muito difícil encontrar uma boa piada que não deprecie algo, alguém. O problema é que "ofensa" não tem exatidão. Jornalismo pode ofender. Tirar a camisa para comemorar um gol pode ofender. Assim, saímos do Carrefour (cultura da histeria) para o Carrefour Express (cultura da ofensa).

Boa parte da esquerda que rompeu com o petismo na última década avisou que o emporcalhamento da imprensa e a popularização das técnicas de assassinato de reputação poderiam servir outros grupos políticos. O antídoto para esse remédio é voltar a viver como na era analógica: interpretando textos e contextos.

Com um pouco de fé, logo voltaremos a catar sabonetes no fundo da banheira.