"Supermax" e o terror das séries brasileiras
"Supermax" estreou na Globo com a promessa de fundir reality show, ficção e sangue. Passados treze episódios, disse adeus sem entreter o público, revolucionar o audiovisual - incrível como os press-releases das séries são sempre mais ousados que os roteiros - e dar sustos.
O problema da propalada primeira série de terror do Brasil é o mesmo das outras séries criadas aqui. Enfeitiçados pelo hype das produções americanas, que demoraram pelo menos 40 anos para assumir o formato consagrador de "Twin Peaks", "The Wire" e "Mad Men", nossos autores buscam episódios dos títulos mais populares, assistem numa tacada só e batem todas as novas - e desconexas - referências no liquidificador, rezando para sair algo do milk shake de "The Walking Dead" com "True Detective".
"The Walking Dead" e "True Detective" são estruturalmente diferentes. E atendem públicos diferentes. A primeira é da escola do 'formula show', que prioriza os acontecimentos, os cenários, em detrimento do desenvolvimento dos personagens. A segunda, apesar dos oito episódios protagonizados por Colin Farrell, segue o processo inverso, o 'ensemble show'.
Diretor de "Supermax", José Alvarenga Jr declarou ao "Omelete" que o estudo de "True Detective" ficou restrito à primeira temporada, pois ela "tratava de satanismo, paganismo e isso acabava movimento o inconsciente - e é justamente aí que a gente fica muito assustado".
A primeira temporada de "True Detective" é mesmo muito boa. Desde a minissérie "The Pacific" a HBO não acertava a mão assim. Mas Nic Pizzolatto, criador e roteirista de "True Detective", não tratou o ocultismo como o grande eixo da história. Era somente parte da liturgia do matador perseguido pelos detetives Rust Cohle e Martin Hart.
A comparação com "The Walking Dead" também depõe contra "Supermax". A série da AMC é arrastada, confusa, ilógica, mas consegue, graças ao elenco, ser divertida em alguns momentos. Nem elenco "Supermax" tem. As melhores atuações surgem nos intervalos comerciais, quando o público fica livre das caretas e testas franzidas de Cleo Pires e Mariana Ximenes - nem "Real World" era artificial e caricato assim.
As interpretações ruins são reflexo direto da premissa pobre - doze ex-criminosos enviados para um reality show sediado em um presídio abandonado na Floresta Amazônica, onde disputam a sobrevivência e um prêmio em dinheiro - e do texto de dissertação de ensino médio.
Os treze episódios de "Supermax" estão disponíveis no GloboPlay.