"Han Solo" repete erros de "Rogue One"

Às vésperas do lançamento de "Han Solo: Uma História Star Wars”, analistas do mercado já indicavam uma provável bilheteria em torno de US$130 milhões e US$150 milhões – o que não é um desastre se comparado com “Rogue One”, que rendeu US$155 milhões, mas um quase desastre na comparação com “Despertar da Força” (US$ 248 mi) e “Os Últimos Jedi” (US$220 mi). Há algo de errado na Disney/Lucasfilm - e esse algo não é Rian Johnson ou a inclusão de personagens de outras raças e mulheres.

Assim como "Rogue One”, “Han Solo” representa a produção conturbada de uma trama sem sentido, cujo personagem mais carismático é, de novo, um robô. A raiz do problema está no departamento pessoal da Disney/Lucasfilm, isto é, no talento que é contratado – repito, o problema não é o Rian Johnson – e sendo demitido para fazer os filmes da produtora.

A contratação de Phil Lord e Chris Miller (roteiristas de “O Filme Lego”) como diretores de “Han Solo" pareceu, de início, uma escolha criativa e promissora. A Marvel, por exemplo, vem se arriscando com diretores de comédias independentes - Taika Waititi, de “Thor: Ragnarok” – e obtendo ótimos resultados. Com duas semanas para o fim das filmagens, a dupla foi demitida da produção e, em dois dias, a Disney conseguiu outro diretor: Ron Howard.

Howard é um diretor estabelecido, com filmes respeitados por público e crítica - “Uma Mente Brilhante” e “O Código Da Vinci” são alguns exemplos. É também uma escolha segura, porque é um profissional que não se arrisca e não tem arroubos de criatividade ou de experimentação. É um diretor de mercado, sem empolgação, preocupado com as entregas. Membros da produção disseram ao "The Wall Street Journal" que Howard filmava em uma hora o que a dupla antes levava um dia todo para fazer (70% do produto final seria refilmagem do trabalho de Lord e Miller) – rapidez não é pressuposto de qualidade.

Assim, toda a primeira metade de "Han Solo" é sombria e monocromática. Há momentos em que é difícil distinguir quem está falando. Como os óculos 3D deixam a imagem ainda mais escura, tive a estranha sensação de que assistia uma cópia pirateada, uma gravação do filme dentro de um cinema sendo projetada na tela Imax. Não há uma cena memorável, de encher os olhos, como o planeta de sal vermelho em “Os Últimos Jedi” ou a luta na floresta em “Despertar da Força”.

“Han Solo" é um filme de aventura que parece chato, um romance sem química, uma comédia com poucos momentos de destaque (um deles é da brilhante robô L3). Nada disto é culpa de Alden Ehrenreich, encarregado de interpretar o jovem Han Solo com o mesmo charme de Harrison Ford. Havia rumores de que um dos grandes problemas da produção era o ator principal, mas sua performance é honesta e traz ingenuidade a um personagem que, apesar de nunca se fechar por completo, aparece bem menos disposto a se deixar envolver por causas nobres na trilogia original.

É importante ressaltar que filmes de fantasia dependem de um certo grau de suspensão da descrença. Muitos questionaram como Rey seria capaz de controlar a Força e lutar com um sabre de luz tendo passado a vida toda em um planeta semi-deserto (o argumento “Mary Sue”). Han Solo cresceu em um esgoto e, em pouco tempo e com pouco treinamento, se transformou no melhor piloto da galáxia, em ótimo atirador e tradutor de wookiee. Duvido, contudo, que as mesmas pessoas que implicaram com a Rey vão implicar com Solo.