Durou pouco --um ano e meio, para ser exato-- o "Faustão Na Band". Com médias entre 2 e 3 pontos de audiência na Grande São Paulo, o equivalente a pelo menos 412 mil espectadores por minuto, o programa será comandado por João Guilherme, filho de Fausto, e Anne Lottermann, ex-jornalista da Globo, até que os contratos publicitários em vigência cheguem ao fim.
A saída de Faustão, oficializada nesta quinta-feira, surpreendeu os funcionários da Band. Internamente, a contratação do apresentador era vista como um ponto de virada para a emissora brigar com SBT e Record no horário nobre. A estreia correspondeu essa expectativa. Com picos de dez pontos e show de Zeca Pagodinho, a atração garantiu a vice-liderança, exterminando a concorrência. Até o "Jornal Nacional" sentiu o baque. O que deu errado depois disso?
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Fazer programa diário é a maior desgraça que pode acontecer a um apresentador e a uma equipe de TV. É difícil ajustar agendas de artistas a cronogramas de estúdio e orçamentos de produção. Faustão, um dos cinco ou dez melhores comunicadores da nossa história, tinha o respeito e a gratidão de muita gente do rock, do teatro, do cinema, do sertanejo, do pagode, do funk e até da literatura, o que permitiu, nos primeiros meses, um cardápio invejável de convidados para os primeiros meses. Com o tempo, isso diminuiu, permitindo à Globo, aos canais pagos e às plataformas de streaming uma reação improvável. A novela das 9, sobretudo no ciclo de "Pantanal", subiu para quase 30 pontos. Os campeonatos de futebol, em exibição quase diária, elevaram os índices dos conteúdos online sem referência (é assim que a Kantar chama o que não é TV aberta ou paga).
A Faustão, a escolha pelo sistema segunda a sexta impôs um desafio adicional. Depois de quase trinta anos de presença semanal na telinha, convencer o público a estabelecer um contato diário é um desafio e tanto, sobretudo no horário em que a Globo tem seu melhor produto ao vivo, o "Jornal Nacional". Era questão de tempo para o excesso de Fausto Silva, um luxo comercial, aplicar veneno nos números do ibope. As médias mensais saíram de 6 para 5, 4, 3 e 2 pontos. Por melhor garoto-propaganda que Fausto Silva seja, e ele é, perdendo talvez para Silvio Santos, ninguém segura uma conta dessas. Era mais garantido levá-lo ao domingo, que ainda não deu match com Luciano Huck e definitivamente está de lua em relação a Rodrigo Faro, e alimentar o "Perrengue". Ou vice-versa.
Faustão sai da Band com maus resultados comerciais e péssimos índices de audiência? Certamente há um movimento de mudança nas finanças do Morumbi. Não houvesse, Flavio Ricco não publicaria, dias atrás, a informação da iminente chegada da NBA à RedeTV!. Agora, do ponto de vista de público, ninguém pode reclamar do "Faustão na Band". Naquele horário, dar 2 ou 3 pontos recebendo com 4 ou 5 do "Jornal da Band" é uma tarefa hercúlea. Os tempos dos números graúdos de audiência estão chegando ao fim. Basta considerar que ontem, em Porto Alegre, o "The Noite" precisou alcançar 2 pontos de média para ser líder de audiência. As novelas nunca mais darão 40 pontos. Só o futebol. O mesmo pode ser dito a respeito da era dos salários suntuosos. Ganhos superiores a R$ 1 milhão são proibitivos nesse momento de rearranjo de preços na publicidade.
A Band não sabe o que vai exibir no horário de Faustão no segundo semestre.
"Estou seguindo a Jesus Cristo..."