Pirataria pode explicar audiência ruim de "Um Lugar Ao Sol" em São Paulo

"Um Lugar Ao Sol", boa novela das 9 em exibição na Globo, está patinando na medição da audiência da Grande São Paulo. Depois dos 25,2 pontos obtidos na estreia, na segunda-feira passada, a trama liderada por Cauã Reymond perdeu algumas centenas de milhares de espectadores e passou a oscilar entre 22 e 23 pontos na região, índice semelhante ao do "Jornal Nacional".

"Gênesis" é um sucesso? Se é! Os picos de 16 pontos da saga religiosa abrilhantam diariamente o marcador da Record. O infortúnio global, entretanto, não está no canal ao lado. Está na caixinha ao lado.

Em agosto, o Teleguiado trouxe um estudo sobre o impacto da pirataria digital no caixa das operadoras de TV por assinatura e nos índices de audiência colhidos pela Kantar Ibope Media na Grande São Paulo, meca desse sistema corrupto.

A despeito dos esforços das autoridades estaduais e federais, que fazem operações no Porto de Santos para represar o crime organizado, o cadafalso paulista continua hostil. Em outubro, os canais pagos consolidaram 4,3 pontos na pesquisa 24 horas, contra 5,2 do recorte de doze meses atrás. No Rio de Janeiro, eles marcaram 7,3 pontos em outubro de 2021 e 8 no mesmo mês de 2020.

Ainda que os números estejam ligeiramente melhores que os de setembro, eles refletem a mesma tendência: a migração de público para uma plataforma alienígena -- tanto os boxes como os aplicativos nativos de televisão por IP tendem a ser classificados como "OTT" pelo sistema. 

Os índices de "Um Lugar Ao Sol" no Rio de Janeiro temperam essa salada de números. A novela não é abraçada pelo Cristo Redentor, mas perseguiu picos de 30 pontos algumas vezes na semana de estreia. É um cenário pior que o da antecessora, "Império", porém muito positivo quando comparado a São Paulo.

O apagão estatístico não é um problema exclusivo de "Um Lugar Ao Sol". O eclipse incomoda mais programas. O "Jornal Nacional", citado na abertura deste artigo, está alguns pontos aquém do normal. "A Fazenda", da Record, idem. Até mesmo "Gênesis" corre o risco de estar defasada. Quem liga a HTV ou a IPTV também assiste TV aberta lá. Eis a problemática sem "solucionática".

Os canais abertos ainda não estão suficiente atentos ao problema que se avizinha. Os canais pagos, assustados com a diferenças entre os índices das maiores metrópoles do país, já começaram a se mexer. Mês passado, o Viva recebeu 0,18 ponto dos paulistas e 0,56 dos cariocas. O SporTV, 0,21 e 0,35 ponto. Variações percentuais enormes e sem justificativa artística ou mercadológica.

Quem pensa que a farra da IPTV é boa notícia para o streaming está cometendo um equívoco do tamanho do prejuízo das operadoras de TV por assinatura. Essas caixinhas oferecem catálogos de filmes e séries on-demand, muitas vezes se antecipando às estreias de HBO Max e Amazon Prime. O barato sai caro também para eles -- e uma hora vai contaminar toda a cadeia de empregos do audiovisual.