Pirataria: TV Box e IPTV impactam caixa de operadoras e ibope de emissoras

Muito populares na Grande São Paulo, onde são comercializadas sem qualquer embaraço nas galerias da Santa Ifigênia, as caixinhas de pirataria e os aplicativos de IPTV estão desfalcando o caixa das operadoras de TV por assinatura e a audiência das principais emissoras do país.

Atraídos pela ideia de nunca mais pagar mensalidades à Claro, Vivo e SKY, consumidores de todas as classes sociais têm desembolsado entre R$ 1000 e R$ 1500 para comprar esses aparelhos, que precisam apenas de uma conexão à internet para irradiar ilegalmente centenas de emissoras abertas e pagas, além de de filmes, novelas e séries de Amazon Prime, Netflix, HBO Max, Paramount+, Globoplay e Disney Plus.

Líderes desse segmento, que cresce desordenadamente, as empresas HTV e BTV dispõem de modernos sistemas para satisfazer os desejos da clientela. Embarcado nos receptores da HTV, o aplicativo Brasil TV ostenta o recurso "Replay TV", que armazena por até sete dias as programações dos principais canais de seu line-up, e um campo para os espectadores reportarem problemas e defeitos nos conteúdos. Produtos que independem das caixinhas, como as IPTVs oferecidas em lojas de aplicativos das smart TVs, contam com diferenciais ainda mais robustos, como o line-up da TV aberta americana -- a diferença dessas IPTVs para os Boxes é a cobrança de mensalidade, que varia de R$ 20 a R$ 40.

A pirataria é dividida em duas frentes tanto nas caixinhas como nos aplicativos "nativos". O material frio, isto é, aquele que não é exibido ao vivo, é baixado em torrents e guardado em servidores, para ser acessado a qualquer momento do dia pelo espectador. O conteúdo televisivo é surrupiado das operadoras SKY, Vivo, Claro e Oi a partir de assinaturas pré-pagas, que são canceladas de tempos em tempos para driblar as autoridades.

Pressionada, a Anatel tem aumentado o cerco contra a pirataria digital. Em 22 de junho, cerca de 40 mil caixinhas foram apreendidas em um trabalho conjunto com a Receita Federal no Porto de Santos. Número maiúsculo, mas insuficiente para frear a sangria de assinantes das operadoras de TV -- no mês retrasado, 130 mil contratos foram cancelados, em um movimento que vai além da crise econômica e custa R$ 15,5 bilhões ao ano, segundo a ABTA.

O consumo por meios alternativos, como esperado, tem impactado a medição de audiência da TV. Meca da pirataria, a Grande São Paulo tem apresentado índices e comportamentos diferentes dos observados em outros cantos do país. Tome-se como exemplo os números colhidos pela Kantar Ibope Media em junho. Na região metropolitana paulista, a Globo perdeu 12% de rating e 8,5% de share na comparação com o mesmo mês do passado. No Rio de Janeiro, a emissora subiu 1% em audiência e 0,2% em participação.

Impacto semelhante é observado no desempenho dos canais pagos. Entre junho de 2020 e junho de 2021, os canais pagos perderam 8,9% de audiência e 5% de share na Grande São Paulo. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, 2,4% e 3,2%. Diferença que faz o SporTV dar 0,58 ponto numa praça e brigar com Band e RedeTV! e amargar 0,44 na outra.

Em entrevista ao Tele.Síntese, o superintendente de Fiscalização da Anatel, Wilson Wellisch, disse que os técnicos da agência receberam relatos de que as caixinhas de pirataria são usadas para coletar dados de usuários através de backdoors e garimpar criptomedas.

“A ideia é ter um relatório pronto até o final de agosto. Pretendemos colocar o material em consulta pública, aprimorá-lo, a fim de ter um documento oficial com as constatações de engenharia reversa desses aparelhos, feito por um órgão técnico e sem viés”.

A próxima temporada do "The Wire" da pirataria promete.

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AUDIÊNCIA E PARTICIPAÇÃO DOS CANAIS PAGOS EM SP:
06/2016: 8,4 e 20,8%
06/2017: 9,3 e 22,6%
06/2018: 6,9 e 16,5%
06/2019: 6,8 e 16,5%
06/2020: 4,9 e 12,2%
06/2021: 4,4 e 11,6%

AUDIÊNCIA E PARTICIPAÇÃO DOS CANAIS PAGOS NO RJ:
06/2016: 10,4 e 25,9%
06/2017: 10,4 e 26,2%
06/2018: 9,6 e 23,7%
06/2019: 9,1 e 23,1%
06/2020: 7,9 e 20,1%
06/2021: 7,8 e 19,5%