País que discute "Malhação" não pode produzir "Mad Men"

Durante as férias do Teleguiado, vários sites acusaram a novela "Malhação", da Globo, de machismo e gordofobia.

O "close errado" (definição da revista Capricho, outra publicação da Abril a aderir ao glossário do lacre) aconteceu em uma cena do casal Joana e Giovane, personagens de Aline Dias e Ricardo Vianna. Transcrevo as dolorosas falas, repercutidas exaustivamente.

Giovane: Promete que vai ficar bem gorda para os caras pararem de chegar em você? (nota do Teleguiado: Giovane havia acabado de descobrir que a namorada, Joana, fez um ensaio fotográfico sensual).

Joana: Gorda? Para você me largar? Nada disso!

Giovane: Que isso, meu amor, eu gosto de você de qualquer jeito.

Joana: Ah, tá bom. Que bom.

Giovane: Não tem nada de largar, não.

Joana: Mesmo gordinha?

Giovane: Mesmo gordinha. Vem cá, minha gordinha. Me dá um beijo, gordinha.

Qualquer pessoa normal sabe que o diálogo acima é corriqueiro. Jovens normais, que não vivem em bolhas, brincam, conversam, trocam provocações do tipo e, inclusive, usam expressões mais fortes que as redigidas pelo autor da novela, Emanuel Jacobina. As redações brasileiras, por displicência, ignorância ou incompetência, não são dotadas de pessoas normais. São dotadas de pessoas que trocam a apuração pela especulação. O fato pela invenção.

Todos os sites que publicaram a não notícia sustentaram que o público ficou incomodado com os preconceitos embutidos na bendita cena. Todos os sites penaram para arrumar manifestações que corroborassem a tese. Alguns "reportagens" replicaram três gatos pingados do Twitter e passaram a régua. Para efeito comparativo, um ponto de audiência em São Paulo corresponde a 199.309 indivíduos.

País que fabrica polêmica a partir de diálogo de folhetim adolescente não pode produzir nada de bom. Dentro e fora da TV.