Luciano Huck quer mudar o mundo para justificar as próprias mudanças

O "Domingão com Huck" contou com duas aberturas. A primeira, fora do palco, envolveu um personagem humilde -- o Seu Domingos --, alguns trocadilhos e a mise en scène dos programas eleitorais da década passada. A última, realizada dentro dos estúdios Globo, reciclou o speech inspirador apresentado por Luciano semana retrasada, no "Fantástico".

"Do dia 8 de abril de 2000, quando eu estreei aqui na TV Globo, para hoje, 5 de setembro de 2021, o mundo mudou muito. O mundo mudou demais. Coisas que cabiam naquela época não cabem mais. Acho que eu amadureci, eu mudei o meu jeito de ver as coisas. A gente aprende muito com o tempo e com as pessoas que nos ajudam. Eu sei do tamanho da minha responsabilidade de estar aqui, de entregar para você horas valiosas de entretenimento, de informação. Eu amo a minha família, eu amo cada minuto que passo com minha mulher e meus filhos. Tenho certeza que você também se importa com cada minuto que você está em casa aproveitando quem ama", comoveu-se.

Ninguém é imune a mudanças. Nós somos como o sistema operacional do PlayStation: estamos sempre em busca de atualizações. A fixação de Huck pela mudança, entretanto, foge um tantinho do tom ao transpassar a barreira do virtuosismo. Para ele, a questão não é ser ou parecer um cidadão melhor. É sugerir que tudo o que existia antes era imprestável, imoral, incorrigível, e que a fórmula da sabedoria está em suas mãos.

Quando a pesquisa ibope da TV era mais importante do que a pesquisa ibope da política, Luciano exibia alegremente competições com moças muito bonitas e nem sempre vestidas, apelando ao "ecletismo" do público. Ele podia muito bem seguir o caminho de Serginho Groisman, que preferia transmitir shows de Smashing Pumpkins e Alanis Morissette no SBT, cuja cobrança por resultados era assustadora na década de 1990, mas não quis. O que seria de sua carreira se não fizesse esse entretenimento mais, digamos, jocoso? Susana Alves está pronta para depilar a perna de quem errar a resposta.

Luciano Huck pode seguir adiante com essa ideia abilolada de apagar o passado e ambicionar 6 ou 7 pontos nas urnas em 2026. Pode, também, deixar seu legado como animador em paz e concentrar suas fichas na TV, atingindo 20, 25 pontos na maquininha da audiência. O que vai inspirar Luciano? O desejo de mudar o entretenimento e presidir domingos ou o de mudar a biografia e presidir o Brasil.

O Seu Domingos escolheria a primeira opção.