"Linha Direta" processa o passado e olha o futuro

Quando a Globo anunciou a terceira fase do "Linha Direta", em exibição às quintas-feiras, duas perguntas contaminaram os saudosistas: por que mexer no que é sagrado? E por que Pedro Bial (assim mesmo, como se ele fosse o Senhor Waldemar da histórica apresentação do Flamengo)?

As duas perguntas têm respostas fáceis. O "Linha Direta" popularizou o "true crime" quando este corria por fora nos trending topics. Com a ascensão do gênero nos podcasts e na TV paga e a submissão do Brasil ao que vem dos EUA, ressuscitar o programa tornou-se imperativo. Sobre Pedro Bial, basta lembrar seu invejável currículo antes da bem-sucedida migração para o entretenimento.

O novo "Linha Direta" nada tem a ver com o velho. Se Marcelo Rezende, rosto da versão mais famosa do programa, tinha que superar o "Programa do Ratinho", Pedro Bial precisa engajar dois públicos distintos, que ainda não convergiram: o tradicional, da TV, e o "alienígena", que não sabe quem é Gil Gomes, mas consome avidamente Rádio Novelo e Discovery ID. Duas linguagens distintas.

Os números de audiência dizem por si só. Com médias sempre acima dos 10 pontos, o "Linha Direta" supera SBT e Record sem perder de vista quem está zapeando no cabo, no YouTube e nas muitas plataformas de streaming. O segredo do sucesso está na adaptação do formato. Com Pedro Bial, as simulações são, na medida do possível, substituídas por imagens reais. Isso não é novo, mas combina com o texto jornalístico desta versão, menos sanguinária e dramática que a anterior.

Curiosamente, os melhores episódios de "Linha Direta" são os que retratam crimes menos midiáticos. A caçada à viúva negra, o périplo do serial-killer de Curitiba e o especial com vítimas de racismo, transmitido na última semana, são muito mais caprichados e interessantes que os casos Eloá e Henry Borel.