Quando o governo é patrão e cliente

Serviço público de comunicação é, em qualquer país civilizado, sinônimo de prestação de contas. Só no Brasil é sinônimo de multiplicação de contas. Prefeitos, governadores e presidentes - de todas as épocas e correntes - gastam dinheiro demais divulgando programas sociais ordinários, taxas de juros de bancos públicos e produtos de quinta categoria de estatais que inexplicavelmente não foram extintas quando os militares deixaram o poder.

A relação entre os veículos de comunicação e seus anunciantes é naturalmente conflituosa. Semanas atrás, quando SBT, Record e RedeTV! deixaram de ceder seus sinais para NET, SKY e Claro, o "Jornal da Band" exibiu uma longa matéria defendendo as operadoras de TV por assinatura. Quem está no rol de anunciantes do "Jornal da Band"? A Claro.

A influência dos anunciantes está diretamente relacionada à qualidade do nosso capitalismo. O Brasil ocupa a 140ª no ranking das economias mais abertas do mundo. Até a China, governada pelo partido comunista, e o possante Tadjiquistão estão na nossa frente. Temos poucas empresas no mercado. E pouquíssimas empresas capazes de comprar espaços na TV. As fabricantes de brinquedos, por exemplo, têm capacidade de investimento, mas não podem vender nada porque os Institutos Alana da vida decidiram por nós. Quem ocupa esse espaço?

De 2000 para cá, o gasto publicitário do governo federal, maior de todos os paquidermes, cresceu substancialmente. FHC, Lula e Dilma aproveitaram a máquina para atormentar humoristas, jornalistas e pressionar empresários. O tucano relata, com orgulho, as conversas com Octávio Frias de Oliveira, publisher da Folha, na série "Diários da Presidência". Boris Casoy, âncora há 30 anos, compara o PT à ditadura. Não é ideologia. É oportunismo.

Michel Temer não é melhor político que FHC, Lula e Dilma. Nem tem chances de vencer a eleição de 2018. É, porém, o mais familiarizado com a máquina. Com a reforma da previdência em xeque, arrumou duas entrevistas na TV aberta para pontificar sobre as belezas da nova regra da aposentadoria. Com certeza vai arrumar mais duas. Ou três. Basta querer.

Ou amadurecemos e entendemos, de uma vez por todas, que a ingerência estatal fica mais perigosa quando as fontes de financiamento são escassas ou teremos gente bem pior comandando a máquina daqui dois anos.