O YouTube e a banheira do Gugu

Carol Moreira pautou os principais portais do Brasil ao reclamar publicamente da postura do ator Vin Diesel durante a entrevista de divulgação do novo "Triplo X".

Três semanas depois da gravação, a youtuber relatou desconforto com as cantadas do ator e pediu para o público - na verdade, o apelo era para a imprensa, que hoje, por falta de recursos financeiros e intelectuais orbita em torno das redes sociais - reparar a "situação delicada", que "na hora" a deixou sem reação.

Com quase dois milhões de acessos em 24 horas, o vídeo tem pouco mais de doze minutos. Vin Diesel, meio grogue, declara três vezes estar apaixonado por Carol. Para qualquer pessoa, isso caracteriza inconveniência (a popular falta de semancol). Para a imprensa tupiniquim, cada vez mais preocupada com os likes e menos atenta aos fatos, isso caracteriza "assédio".

Acusar alguém de assédio é muito grave. E por causa da preguiça dos novos jornalistas, que deixam as universidades sem saber escrever um lead, todas as semanas casos fictícios de estupro, sexismo e assédio moral ganham as capas dos sites. A divulgação de crimes graves sem filtro acarreta na óbvia descrença do público em relação aos mesmos crimes. Afunda a credibilidade da justiça, que parece exagerada ou descabida, atrapalha a autoridade responsável pela investigação, já que ela não deveria sair do escritório para esclarecer um caso ventilado em timeline de Facebook, e desrespeita as mulheres que são realmente atingidas por homens canalhas.

Carol Moreira passou a quinta-feira repetindo para a imprensa que não acusou Vin Diesel de assédio e que estava apenas interessada em denunciar o machismo enfrentado pelas repórteres no dia a dia. De fato, ela não pronunciou a palavra "assédio". Porque sabia que o uso era desnecessário. A imprensa afobada faria o trabalho de graça por ela, aceitando minar a própria credibilidade em nome do prestígio efêmero das redes sociais.

É comum publicarem por aí artigos festejando o fim da "bundalização" e do sensacionalismo na TV aberta. Os estudiosos atribuem essa mudança de comportamento à democratização e aos insumos culturais gerados pela internet, destacando a criticidade do público.

Quem enxerga evolução nos últimos 15 anos é palerma ou desonesto. O Brasil nunca foi tão bovino, arcaico, ignorante, falso moralista e afoito como agora. Trocamos a banheira do Gugu e os barracos da Márcia Goldschmidt pelo pedantismo de gente que carrega toda a informação do mundo na palma da mão e não é capaz de interpretar uma frase.

Ao portal IG, Carol afirmou que o episódio gerou um "debate importante para a gente ter hoje em dia" e que não se importa com a repercussão "se isso for preciso para a gente falar sobre o assunto".

A opinião pública está catando os sabonetes atirados por uma youtuber.