O polígrafo de Pedro Bial e o veneno de Lula

Pedro Bial recebeu uma porção de críticas por afirmar, em entrevista ao "Manhattan Connection", que precisaria de um polígrafo acompanhando as respostas do ex-presidente Lula se um dia o entrevistasse ao vivo na tela da Globo. O jornalista, que reencontrou sua melhor fase na pandemia, passou do ponto com o petista?

Chamar alguém de mentiroso em rede nacional não é brincadeira. Jair Bolsonaro, alguém que certamente enlouqueceria o Dr. Cal Lightman em "Lie To Me", sempre esperneia quando é apanhado inventando estultices sobre vacinas e lockdown – duas coisas que inexistem no Brasil. Mas olhemos o outro lado. Lula, na versão de Bial, teria afirmado que só participaria do "Conversa com Bial" se sua entrevista fosse exibida ao vivo. Em outras palavras, colocou em xeque a idoneidade dos editores do show. Isso soa lisonjeiro?

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A alfinetada de Lula ao "padrão Globo de edição" carrega cicatrizes da cobertura eleitoral de 1989, quando a emissora recortou trechos do último debate entre o petista e Collor, transmitido também por SBT, Band e Manchete, para exibi-los no "Jornal Nacional". Os petistas atribuem à manobra a vitória apertada obtida pelo caçador de Marajás. O compacto era mesmo inadequado, mas não subverteu o resultado da eleição: a íntegra do debate deu mais ibope que a fita da discórdia – 66 a 61 – e o eleitorado, em pesquisa realizada pelo Vox Populi, já havia declarado Collor vencedor do encontro. Todavia, os tempos mudaram. Mudaram tanto que, quase duas décadas depois, o Grupo Globo admitiu o erro.

"(...) o episódio provocou um inequívoco dano à imagem da Globo. Por isso, hoje, a emissora adota como norma não editar debates políticos; eles devem ser vistos na íntegra e ao vivo. Concluiu-se que um debate não pode ser tratado como uma partida de futebol, pois, no confronto de ideias, não há elementos objetivos comparáveis àqueles que, num jogo, permitem apontar um vencedor. Ao condensá-los, necessariamente bons e maus momentos dos candidatos ficarão fora, segundo a escolha de um editor ou um grupo de editores, e sempre haverá a possibilidade de um dos candidatos questionar a escolha dos trechos e se sentir prejudicado", resumiu.

Lula é líder das pesquisas eleitorais e está na crista da onda graças ao desempenho pífio de Jair Bolsonaro. Deveria se preocupar com demandas mais importantes para o país – o impeachment do paspalho, por exemplo.