A inútil polêmica deflagrada no "GloboNews Em Pauta" de terça-feira (o apresentador Marcelo Cosme pediu para a repórter Carolina Cimenti abolir o uso da palavra "denegrir") continua em voga na imprensa. Ontem, o ECOA, "rede do UOL por um mundo melhor", saiu apregoando que a expressão "a coisa está preta" é racista. E não só ela. O fio no Twitter tem mais dez palavras ou orações "do mal". Mais da metade não para em pé, mas o importante mesmo é lacrar.
Quem acha que "a coisa está preta" associa "pessoas negras a uma situação ruim ou negativa", como faz a patrulha do bem do nobre portal, só pode ter sete anos de idade mental. É como se alguém pontuasse que a frase "o céu está preto", repetida milhares de vezes no Verão, tivesse algum gatilho racial, quando é uma reles leitura meteorológica. Da mesma forma que existe um Marea Preto (espero que não na sua garagem), existe o lençol preto. Há juízo de valor aqui também? Mais: há imputação baseada na cor da pele? Parece-me óbvia a negativa.
Assim como a cor vermelha é associado a calor, a cor preta é associada a rigidez, dificuldade. Quem fala "a coisa está preta" quer simplesmente externar o quão complicada é aquela situação. É muito diferente da expressão "serviço de preto", obviamente racista. Se os problematizadores são incapazes de compreender isso, a receita é a cartilha Caminho Suave.
O racismo não pode ser combatido com desinformação. A melhor arma contra a intolerância ainda é a lei. Quanto mais segregarmos as pessoas, mais ignorantes elas se tornarão -- e mais aderentes ao radicalismo, consequentemente. Não precisamos de um novo idioma. Precisamos, como sempre, de autoridades que trabalhem, vigiem e punam os bandidos. É mais difícil e rende menos likes do que apontar dedos por aí, mas muito mais eficaz.