Tony Goes publicou semana passada um interessante artigo sobre "a pele extremamente fina" de Danilo Gentili. Comovido com a demissão de Diego Bargas, o pior repórter de cinema que se tem notícia, o colunista do F5 criticou o comediante por usar as redes sociais para se defender do antiprofissionalismo do colega de Grupo Folha, e não as páginas da Folha de São Paulo - como se o jornal fosse a tribuna oficial do Brasil.
Polêmica deixada para trás, Tony escreveu esta semana um texto relacionando a campanha #CaetanoPedofilo à onda de "ódio" que os artistas, especialmente os de "extrema-esquerda", enfrentam diariamente na internet. Para ele, o MBL disfarça o adesismo a Michel Temer denunciando gente pelada em museu. E que tudo isso resultará na "cristalização de um regime autoritário" de pedigree russo.
Os brasileiros sempre foram selvagens. Se o MAM colocasse um homem pelado interagindo com crianças em 1997, a mesma polêmica estaria em voga, mas em menor proporção. O que mudou nos últimos 20 anos foi a influência da internet na opinião pública - e o sucateamento do jornalismo, que deixou de apurar pautas e buscar informações para repercutir assuntos que nunca cativam a dona de casa com chinelo remendado. O gosto do povo por hábitos conservadores e líderes populistas nunca foi novidade para quem viveu com a janela aberta. Com as redes sociais, todo mundo é obrigado a admirar a paisagem. Se ela é feia ou bonita, paciência.
Tony Goes acredita que há uma perseguição contra artistas de extrema-esquerda. Não há. Algumas bolhas perseveram fenômenos do tipo. Em geral, são os eleitores do PCO e os direitistas que pedem a volta do regime militar. Gente ínfima. Outro dia, surgiu no Twitter um movimento para zerar o ibope da Globo. "A Força do Querer", novela com personagem trans, saiu do ar com 66,9% de share em São Paulo - ou seja, a cada 100 televisores ligados, praticamente 67 estavam ligados no plim-plim. O tal protesto virou campanha engraçadinha no "Fantástico". Realmente, ninguém ajuda mais a Globo do que os "inimigos" da Globo.
Reduzir o "ódio" a um lado do espectro político é outra besteira. Ao comentar, em sua conta pessoal no Twitter, que estaria no "The Noite", Julian Casablancas foi bombardeado por centenas de mensagens de esquerdistas acusando Danilo Gentili de uma porção de crimes. O assassinato de reputações, portanto, é invenção da corrente abestalhada da esquerda, que passou os últimos anos censurando desde desenho animado até doce de padaria.
Vivemos na era da escandalização. Sorte que Caetano Veloso tem alguém para cuidar de sua pele extremamente fina.