Amadorismo tirou o emprego do repórter da Folha

Diego Bargas não é mais funcionário da Folha de São Paulo. No Facebook, o ex-repórter do caderno Ilustrada escreveu um textão culpando a onda conservadora e a influência de Danilo Gentili pelo trágico fim de sua passagem no jornal.

Vamos começar pela onda conservadora. Essa leva enigmática, que não elege presidente da República nem faz maioria na Câmara, sempre recebe uma coroa de louros quando a patrulha progressista perde um homem. Atribuir o desligamento do jornalista ao estardalhaço causado por tuiteiros anônimos é tratar de maneira amadora a questão. E o problema de Diego Bargas é, justamente, o amadorismo.

Todos - comunicadores ou não - têm o direito e o dever de contestar artistas, políticos, atletas e quem mais descer para o playground da vida pública. O que não é aceitável é a desonestidade. A covardia. Quando Bargas pergunta a Gentili e Bittar se as presenças de Alexandre Frota e Rachel Sheherazade não engrandeceriam o filme, ninguém reconhece um repórter de jornal - o maior jornal do pais, registre-se -. Reconhece um garoto querendo lacrar. Na melhor das hipóteses, reconhece um Repórter Vesgo, sem o terno marrom e a canopla da Band.

Provocações são necessárias nesses tempos bovinos, onde esquerdistas e direitistas criam bolhas para "influenciar" os patetas mal-intencionados que escolhem viver em cargos públicos - sempre desconfie de quem troca uma carreira, qualquer uma, por uma vaga em Assembleia. Provocações de má-fé, a serviço dos semeadores dos discórdia que existem aos montes nas redes sociais, não são. Os editores da Folha simplesmente reconheceram que os questionamentos de Bargas eram viciados, torpes, despropositados. E que as imagens, divulgadas neste Teleguiado, prejudicavam institucionalmente o jornal - a justificativa oficial não convence.

Acreditar que Danilo Gentili telefonou para a Folha e ordenou a demissão do repórter é outra estupidez. Se o comediante tivesse qualquer influência sobre o jornal, impediria, por exemplo, a publicação desta crítica. De Reinaldo Azevedo a Guilherme Boulos, a Folha mantém colunistas de todos as matizes ideológicas. E nunca se desfez deles por pressão popular. Supor que o vídeo foi uma estratégia maldosa é outra temeridade. Junkets sempre têm câmeras. Quem analisar as outras entrevistas concedidas neste dia encontrará o mesmo enquadramento da gravação que circula nas redes sociais.

Daniel Bargas encerra seu desabafo com um alerta para seus colegas: "Os tempos são sombrios, o que vem por aí é ainda pior, é implacável".

O confronto com a realidade é mesmo implacável.