O que Daniela Lima chama de jornalismo

Daniela Lima errou. E errou feio. No afã de ser a primeira a noticiar a operação da ABIN paralela, a apresentadora da GloboNews atribuiu a Carlos Bolsonaro, o Carluxo, a posse de um computador que não estava com ele. Era bombástico. Tornou-se calamitoso.

"Aos telespectadores e aos envolvidos, meu pedido de desculpas. A responsabilidade de fazer a curadoria da notícia é minha --e ontem eu falhei. Mas o que diferencia o jornalista é o compromisso com o fato. Erro se corrige na mesma medida", escreveu ela nesta terça-feira.

O que diferencia o jornalista é o número de erros que ele comete. Ninguém é infalível, mas todos podem ser cuidadosos na hora de apurar. Daniela não é. Para ela, ler o WhatsApp com a mensagem da fonte é mais importante que escarafunchar a fonte, investigar a fonte, contestar a fonte. Em suma, Daniela é uma versão envernizada do "Choquei", aquela página de fake news que levou uma menina para o caixão e já está de volta ao mercado, enchendo os bolsos com dinheiro "do bem".

Muitos jornalistas ficaram com peninha de Daniela Lima, alegando que o importante é não ter medo de admitir o erro e dar a informação certa no final. Pior do que o sindicalismo crônico da profissão é esse corporativismo irresponsável. Daniela merecia uma reprimenda, não tapinhas nas costas por esse erro. Jornalista bom erra pouco e se corrige sempre --e não com horas de atraso. Quem banaliza erro com desculpinha de “dou a informação certa no final” não tem consideração pelo jornalismo. Tem consideração por sua cor ideológica.

Daniela Lima não é a única jornalista de WhatsApp da imprensa. Todas as editorias têm replicadores de releases e porta-vozes oficiais de recados alheios. O que chama atenção é a falta de pudor dessa turma. O jornalismo perdeu a vergonha de ser teleguiado por ministros, procuradores, deputados, influenciadores, atletas e quem mais souber manejar um comunicador instantâneo. Antigamente, ser bem relacionado era parte do ofício. Agora é o todo.

O jornalismo oficial, não contente em querer ser tutor, agora quer ser absoluto, inquestionável. O jornalismo deixa de ser uma atividade para ser um símbolo de manutenção de status quo.

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Amigos de Daniela Lima ponderam que é difícil lidar com a informação em tempo real. Não é. Mais: quem trabalha na GloboNews, líder absoluta de audiência no segmento jornalístico, pode esperar quinze minutinhos para dar uma notícia. A direção da TV é responsável e sabe que a credibilidade vale mais que uma postagem no WhatsApp.