Como a GloboNews denigre o combate ao racismo
Marcelo Cosme, apresentador do "GloboNews Em Pauta", interrompeu o programa da última terça-feira para puxar a orelha de Carolina Cimenti, repórter que anos atrás caiu em uma pegadinha do Repórter Vesgo, pelo uso da palavra "denegrir".
“Nós cometemos escorregões às vezes, e precisamos lembrar para não acontecer. Você usou uma palavra que não usamos mais: denegrir. Como nós temos essa liberdade, quis chamar sua atenção para você poder se desculpar e não comentarmos mais sobre isso”, disse o arrogante apresentador (quem faz isso ao vivo e completa a reprimenda com 'não comentarmos mais sobre isso' é arrogante, me desculpem).
Todo mundo que completou o ensino médio sabe o significado de "denegrir" e reconhece que não há nada de racista na expressão. De uns tempos pra cá, os branquelos ricos -- eu sou branquelo; não sou rico, mas posso caçoar deles mesmo assim -- da imprensa brasileira encasquetaram que o remédio para o racismo é a novilíngua. Não se pode mais escrever "criado-mudo" por aí sem que algum afetadinho despeje suas (equivocadas) virtudes para cima de gente inocente, que de racista nada tem.
O problema do combate ao racismo no Brasil é o palanque teórico. Se o sergipano que inaugurou a câmara de gás da polícia local tivesse a sorte de morar nos EUA, ele seria tema dos jornais de NBC, ABS, CBS e FOX antes do prime-time e antes dos talks shows. CNN, Fox News e MSNBC gastariam horas cobrindo os protestos populares contra a morte absurda do cidadão, que tinha o porte de um personagem do Chico Anysio e era amassado por três brucutus de uma cidadela afastada da capital. Mas não. No Brasil, combate-se o racismo lacrando em rede social. Fazendo carão na TV fechada. Apelando ao virtue signaling.
A GloboNews denigre (mancha a reputação, paspalhos) o combate ao racismo com esse comportamento besta.
E pensar que esse canal, no passado, exibia produtos de primeira linha, como "Milênio" e "Starte".