Água a R$ 93 é fake news da Globo

O título é forte, mas não poderia ser outro. O depoimento do repórter Wallace Lara a respeito dos comerciantes que cobravam R$ 93 por um litro de água mineral no litoral norte de São Paulo, região castigada pelos temporais do fim de semana, é mentiroso. Quem diz isso? A própria Globo, como demonstra o vídeo abaixo.

Fonte do "Bom Dia SP", Suzan Tavares é muito clara sobre o preço da água mineral nos supermercados de São Sebastião. O que era vendido a R$ 93 era o fardo com 12 garrafas com 500 ml, não a garrafa de um litro --vasilhame que, registre-se, só duas empresas grandes mantêm no mercado: Crystal e Bonafont. Há uma diferença matemática gritante aí. Diferença esta que não poderia, sob hipótese alguma, ser desprezada pelo jornalista.

"Ah, Sarubo, deixa de ser arrombado. O cara estava abalado com a situação e deixou a emoção aflorar", pensa o leitor de boa fé. Entendo o abalo, mas R$ 93 dividido por 12 dá R$ 7,75. E R$ 7,75 x 2, R$ 15,50. São R$ 77,50 de diferença. R$ 77,50 que não mudariam o âmago da notícia, já que o sobrepreço, apesar de restaurantes e padarias cobrarem até R$ 10 pelo mesmo produto, continuaria na testa do varejista careiro. Por que enganar o espectador?

Dizem que jornalismo pode ser feito com emoção. Pode, mas não deve. Sobretudo agora, na era das redes sociais. É muito fácil forjar indignação, tristeza ou estupor para ser o viral do dia. O difícil é ter lucro com isso. Ninguém paga pela audiência instantânea do Twitter ou do Instagram. E a publicidade digital, concentrada nas mãos das big techs, é feita de migalhas. Não me parece conveniente surrar ainda mais o brinquedo.

Se todo jornalista em zona de crise começar a chorar, o Geraldo Luis vai ser forçado a apresentar o jornal da Bloomberg.

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Em 2020, a Globo deixou a emoção falar mais alto e mentiu para o público no "caso Suzy"