"The White Lotus" ri do poder do dinheiro

O que pode dar errado durante uma viagem para um resort paradisíaco no Havaí? A resposta é dada logo no início do primeiro episódio: alguém foi assassinado. A nova série da HBO (já renovada para uma segunda temporada, mas com personagens diferentes) trata da dinâmica entre hóspedes e funcionários do hotel de luxo nos dias que antecedem o crime – um crime que só é desvendado por completo, é claro, no sexto e último capítulo. Criada por Mike White, “The White Lotus” explora o poder do dinheiro nas relações humanas.

“Eu sempre quis fazer um programa sobre dinheiro e como ele pode perverter até mesmo as nossas relações mais íntimas – como o dinheiro influencia casamentos, interações com estranhos, amigos e entes queridos,” disse o criador em entrevista. “Achei interessante tratar da ética de se tirar férias na realidade de outras pessoas.” Todo o ethos da série pode ser ilustrado pela recepcionista que acena e sorri para os turistas enquanto tenta esconder que está grávida e acabou de entrar em trabalho de parto.

O comentário social de “The White Lotus”, no entanto, não chega a cair no didatismo e nem trata os babacas ricos como se fossem monstros sem qualquer resquício de humanidade. Há um senso de humor que permeia o roteiro e torna tudo mais palatável. Qualquer um que já tenha trabalhado no setor terciário sabe que as relações entre empregado e consumidor são complicadas. A ideia de que o cliente sempre tem razão pode levar ao abuso e a pessoa que tem dinheiro pode tirar vantagem de quem precisa do dinheiro.

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Na série, o relacionamento que mais me chamou a atenção foi o de Tanya, uma ricaça branca em luto pela morte da mãe, e Belinda, a gerente negra do spa do resort. É muito fácil sentir simpatia por Jennifer Coolidge, atriz famosa sobretudo por comédias como “Legalmente Loira” e “American Pie”. Sua dor é um tanto patética, mas torcemos pelo seu sucesso. Sua relação com Belinda, porém, é parasitária – ela exige tempo e atenção que vão além dos limites profissionais. Tanya pode ser, ao mesmo tempo, cativante e cruel.

Quando falamos de exploração, pensamos em imagens explícitas de dor e violência, mas há inúmeras formas mais sutis de explorar alguém que vive na vulnerabilidade, seja em razão de sua classe, raça, orientação sexual ou identidade de gênero. Em tempos de pandemia, é sempre bom lembrar que nos tornamos vilões quando escolhemos o nosso próprio conforto acima das necessidades dos outros. Não vou dar spoiler, mas pelo final de “The White Lotus”, não há muita esperança de que, um dia, sairemos do status quo.

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