"América" estreou em março de 2005 com 56 pontos de ibope. Confrontada pela reprise de "Xica da Silva", no SBT, perdeu um terço do público em três semanas. Como não havia a muleta da onda conservadora naquela época, Glória Perez correu atrás do prejuízo, ouviu a opinião dos espectadores e rapidamente corrigiu o principal núcleo da história. A trama, candidata a fiasco, virou o jogo e despediu-se do plim-plim com picos de quase 70 pontos e várias capas de revista dedicadas a um galã gay –onde está o conservadorismo da audiência quando SBT e Record estão em apuros?
Gilberto Braga culpa o público paulista pelo fracasso de "Babilônia". Ao jornal "O Globo", ele disse que a maior metrópole do país é esquisita e bitolada. "Não sei escrever para quem gosta de Jamanta. Meu universo é anti-Jamanta", exemplificou.
A campanha presidencial terminou em outubro, mas algumas personalidades insistem em aplicar os argumentos criados para justificar o mau desempenho de Dilma Rousseff entre os eleitores mais ricos –a existência de uma elite esnobe, curiosamente acusada de frequentar os mesmos restaurantes que alguns ex-ministros– e os eleitores paulistas –o conservadorismo da população que elege prefeitos petistas em quatro das cinco maiores cidades do estado- para disfarçar seus fracassos.
"Babilônia" não marca menos audiência que a novela das 19 horas por causa das senhoras beijoqueiras. O público até reclama de uma cena ou outra, mas sempre faz isso com a TV ligada. O problema é a falta de personagens e conflitos interessantes.
Impressionados pelos recentes sucessos da TV americana, os novelistas têm tentado, a todo custo, introduzir elementos do ensemble show em suas histórias. Eles ignoram que o fio condutor da –hoje claudicante– 'era de ouro da TV' nunca foi a ousadia ao abordar temas comportamentais, mas sim o desenvolvimento psicológico das personagens. Nossos folhetins ficam no meio do caminho: são muito rasos para serem provocadores e chatos demais para serem instigantes.
Para Gilberto Braga, Jamanta seria menos Jamanta se fosse gay ou defendesse alguma causa. Eis um autor escrito e bitolado.