Sem Felipe Massa, Globo será obrigada a tratar a Fórmula 1 como o esporte que é

Andrew Hone/Pirelli
Andrew Hone/Pirelli

(Artigo originalmente publicado em setembro de 2016, antes da aposentadoria de Nico Rosberg e do retorno de Massa à Williams)

Vice-campeão mundial, Felipe Massa surpreendeu a imprensa e a Fórmula 1 ao anunciar sua aposentadoria. Ele vai pendurar as luvas e sapatilhas no GP dos Emirados Árabes Unidos, quando completará, salvo qualquer contratempo, 274 provas e 271 largadas.

A saída de Massa e a iminente ausência de brasileiros na categoria evidencia os erros de gestão esportiva da CBA, a Confederação Brasileira de Automobilismo, e de gestão de produto da Globo, dona dos direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil.

Guiada pelo ufanismo, a cobertura da emissora nunca se preocupou com a formação de fãs do esporte. Tudo sempre girou em torno do sucesso dos pilotos brasileiros, tratados como salvadores da Pátria durante a seca da seleção brasileira de futebol.

Imediatista, a estratégia garantia ótimos índices de audiência. Ayrton Senna era uma novela das 6 correndo sozinho nas madrugadas de sábado e manhãs de domingo. Até o dia em que a barra de direção da Williams FW 16 quebrou, encerrando o folhetim e a carreira do tricampeão mundial.

A Fórmula 1 perdeu público ano a ano depois do acidente de Ayrton. Em 1998, com apenas 16 corridas, o ibope caiu para 15 pontos, metade da época dourada. À época, Schumacher guiava pela Ferrari e travava intensas batalhas com Mika Hakkinen, da McLaren. A Globo não aproveitou a rivalidade, fundamental para a recuperação da categoria na Europa, porque preferiu preferiu colar no alemão a pecha de vilão.

Antes que o erro pudesse ser corrigido, Rubens Barrichello assinou com a Ferrari. Sua primeira corrida, na madrugada de 12 março de 2000, garantiu 25 pontos de audiência. A expectativa de um título mundial garantiu pico de 32 pontos em julho do mesmo ano, quando o brasileiro aproveitou o abandono de Schumacher e a estratégia conservadora da McLaren para vencer o GP da Alemanha.

Como Barrichello não tinha nada a ver com Ayrton Senna, demorou pouco para o público entender que daquele mato não sairia cachorro. A audiência voltou a oscilar para baixo. Nos últimos 17 anos, o ponteiro só avançou em duas oportunidades: quando Montoya, Raikkonen e Schumacher disputaram ponto a ponto o mundial de 2003 e no emocionante duelo entre Felipe Massa e Lewis Hamilton.

Mais que o último representante da velha safra do automobilismo brasileiro, Massa ostenta a maior audiência da Fórmula 1 moderna. A dramática derrota no GP do Brasil de 2008 rendeu 32,7 pontos de média e picos de quase 40 nas voltas finais. Inexplicavelmente, a melhor decisão de todos os tempos ficou de lado nas peças de divulgação da temporada seguinte. A hipótese do título mundial ganhou, outra vez, a batalha.

Felipe não ganhou nenhuma corrida depois do GP do Brasil de 2008. Por sorte, não recebe do público as grosserias que Rubens Barrichello atura até hoje. De alguma maneira, conseguiu preservar sua imagem, atraindo simpatia e respeito pelo que é. A Fórmula 1, depois de tantos equívocos, conseguirá atrair simpatia e respeito pelo que é?