O Upfront 2026 chamou mais atenção pelos ataques da Globo à Band do que pelas novidades prometidas para a próxima temporada. Para o mercado, um choque e tanto. Por que diabos a Globo, líder inquestionável, preferiu apontar seus canhões para uma adversária menor, que muitas vezes é superada pela RedeTV!, em vez de ir pra cima da Kantar, que mede a audiência de forma amostral e em pontos, prato cheio para as extrapolações sem noção do streaming, e peitar para valer o YouTube?
Se é difícil ser a Globo, ser a Band é muito mais. Em "crise", a Globo tem um terço do share e mais público do que a soma de todas as plataformas online. Para o pessoal do Morumbi, ultimamente, só tem sobrado a boa vontade da Igreja Universal do Reino de Deus, e o esforço da equipe de jornalismo, que faz milagre para atingir picos de quatro pontos em São Paulo. Manifestar poder sobre a quarta rede do Brasil, de ibope médio quase vinte vezes inferior, é praticamente a representação daquela cena dos Simpsons em que o Homer, vestido de Krusty, soca um ator até uma criança da plateia suplicar: "Pare! Ele já está morto!".
Pior do que o texto da chef Renata Vanzetto a respeito do "Masterchef" --ela arguiu, sem citar números e fontes, que um episódio do "Chef de Alto Nível" dá mais audiência do que a soma de todos os episódios do reality gastronômico da Band-- foi o comentário supostamente irônico de William Bonner a respeito da Fórmula 1. Que a Globo tinha mais audiência do que a rival transmitindo as corridas não é mentira. Mas sugerir que a categoria deixou de ser falada por estar fora do plim-plim é um devaneio de quem dormiu com a planilha do velho ibope embaixo do travesseiro e não se tocou que as coisas mudaram. A decisão do mundial de 2021 bateu a Globo em São Paulo. E os cambaleantes campeonatos de 2024 e 2025 tiveram picos de primeiro lugar em algumas regiões metropolitanas.
Dias atrás, nas plataformas digitais do Teleguiado, publiquei um vídeo sobre a reação do público às vitórias do Ratinho sobre a Globo na década de 1990. É engraçado --e até edificante-- ver a zebra derrotar o favorito e tocar uma zona para comemorar. Mas o contrário não é. A imagem do campeão que espezinha o competidor que quase nunca chega ao pódio é de arrogância, prepotência. A Globo, que tanto trabalhou nos últimos anos para deixar de lado essa imagem, resolveu brincar de Odete Roitman --a da Beatriz Segall-- na última semana do remake de "Vale Tudo". E com a Band como alvo. É bizarro.