Televisão

O YouTube dá mais audiência que a Globo?

Objetivamente: não. O texto que atribui ao YouTube a sua primeira vitória contra as redes abertas de TV é um press-release apresentado pelo Google ao mercado publicitário. O mote da divulgação é uma pesquisa da Kantar Ibope Media restrita aos televisores conectados à internet. Como sabemos, nem todos os aparelhos do Brasil acessam a web. […]

PIXABAY

Objetivamente: não.

O texto que atribui ao YouTube a sua primeira vitória contra as redes abertas de TV é um press-release apresentado pelo Google ao mercado publicitário. O mote da divulgação é uma pesquisa da Kantar Ibope Media restrita aos televisores conectados à internet. Como sabemos, nem todos os aparelhos do Brasil acessam a web. Na verdade, a própria Kantar é incapaz de acessar o Brasil inteiro --custa caro cobrir um território de 8.510.000 km². As pesquisas do Painel Nacional de Televisão cobrem quinze regiões metropolitanas/capitais. O país profundo, justamente aquele que mais consome Globo, SBT e Record, é ignorado.

Não bastasse esse significativo problema amostral, a medição da audiência do YouTube enfrenta uma barreira técnica. Enquanto os canais abertos são cadastrados a partir do áudio dos televisores, as plataformas de streaming são coletadas pelo IP, o número que identifica os sites. Assim, programas de TV assistidos ao vivo no YouTube, como "Roda Viva" e "Jogo Aberto", deixam de ser somados ao quórum de suas respectivas TVs para engordar a audiência da plataforma do Google. Um desvio sério, que não existe em outras tecnologias --quem, por exemplo, assiste "Roda Viva" na VIVO está dando audiência para a TV Cultura, não para o segmento "TV a cabo".

É óbvio que a TV aberta vai perder espaço no mercado. Nos EUA, de acordo com o estudo The Gauge, pouco mais de 22% do share pertence aos canais tradicionais, contra 26% do cabo e 41% do streaming. É possível que em cinco anos o streaming, no Brasil, se aproxime dos 41% registrados na América. Mas a realidade de hoje é muito diferente. E quem diz isso são os números brutos, livres de targets e desvios. Ontem, com uma programação meia-bomba, a Globo deu 11,4 pontos e 33,7% de share. O streaming inteiro, e não só o YouTube, 8 pontos e 23,4%.

O futuro do streaming é aposentar a encarecida e ultrapassada TV a cabo brasileira, que nunca foi grandes coisas. E já está bom demais.