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Fórmula 1 e Faustão são bodes expiatórios da crise na Band

É verdade: Band e Fórmula 1 estão em litígio. A crise entre as partes, menciona o Grande Prêmio, é antiga e atingiu seu clímax em junho deste ano, obrigando Mariana Becker a cobrir o GP do Canadá com um microfone neutro, sem a marca da emissora. Há quem culpe a falta de competitividade da categoria […]

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É verdade: Band e Fórmula 1 estão em litígio. A crise entre as partes, menciona o Grande Prêmio, é antiga e atingiu seu clímax em junho deste ano, obrigando Mariana Becker a cobrir o GP do Canadá com um microfone neutro, sem a marca da emissora. Há quem culpe a falta de competitividade da categoria pela situação, já que Max Verstappen venceu três campeonatos consecutivos --caminha para levantar o quarto caneco. Há quem culpe o ritmo de tartaruga da economia pelo estágio pré-falimentar da relação. Há até quem culpe o perfil do público do automobilismo por todo esse auê. Tudo besteira, é claro.

A Fórmula 1 saiu da Globo em 2020 por razões cambiais, a exemplo do que aconteceu com a Copa Libertadores da América. Ainda que um ou outro episódio do "Chaves" encostasse e até ultrapasse GPs mais modorrentos, como os de Hungria e Singapura, a audiência era considerada ok pelos executivos. Tanto isso é verdade que, atualmente, só o Globo Rural tem números consistentes na faixa matinal.

Quando adquiriu a Fórmula 1, a Band sabia que dificilmente repetiria os números da Globo. Este Teleguiado, em 2020, cravou que as corridas dariam entre 2 e 3 pontos. Exatamente o que dão hoje. Os números de 2021, extraordinários, eram irreais. E frutos de erros nababescos do Grupo Globo --a RedeTV!, com alguma engenharia, também venceria aquela porcaria de "Zig Zag Arena", aos domingos. Se a Band tivesse, em sua grade, muitos programas dando 4 ou 5 pontos de média, a crítica ao rating seria plausível. Acontece que, depois da Fórmula 1, tudo exibido lá dá 1 ponto ou menos. Salvam-se o "Perrengue Na Band" e o "Apito Final", que de vez em quando são superados, respectivamente, por "João Kléber Show" e "Geral Do Povo". E fora do eixo RJ-SP, os números continuam pujantes, com picos de liderança em Curitiba e Brasília. Reclamar de quê?

Do ponto de vista comercial, era igualmente óbvio que a Band arrecadaria menos do que a Globo. A Liberty Media, dona da Fórmula 1, nunca exigiu algo diferente disso, diga-se. Para ela bastava a divisão dos lucros, como fazia a Conmebol com o SBT. Se alguém no Morumbi realmente supôs que seria possível vender cotas por dezenas de milhões de reais e deu sinal verde para a casa sair gastando por conta, a consequência não poderia ser outra: endividamento. A Globo cobra uma fortuna por seus produtos porque pode cobrar uma fortuna por seus produtos. Além do ibope médio maior, ela oferece flashes no "JN" (24 pontos), no "Fantástico" (16 pontos), no "Jornal da Globo" (7 pontos) e no "Globo Esporte" (10 pontos) na TV aberta. Na TV paga, cede o SporTV (segundo maior ibope do mercado, atrás do Viva). Na web, o GE.com. No streaming, o Globoplay (quarta maior plataforma, atrás de YouTube, Netflix e Prime). Um ecossistema convergente de verdade, com canhões bem posicionados. Em suma, o mercado hoje divide-se em quatro frentes: a Globo, o streaming, os outros canais abertos e, no fim da fila, os canais pagos. Faltou à Band saber o seu lugar.

Atribuir a queda de audiência ao perfil elitista da Fórmula 1 é, outra vez, subestimar os números. Se é verdade que a TV a cabo concentra a maioria dos contratos de exibição na Europa, também é verdade que a TV a cabo só custa dois rins e um pedaço do fígado no Brasil. A TV a cabo, nos EUA, responde por 30% da audiência geral, contra 20% do broadcast (TV aberta). E mesmo lá a Fórmula 1 começa a engatinhar na TV aberta, com exibições em primeiro lugar na ABC.

Da mesma forma que a Libertadores voltou para a Globo, é bastante possível que a Fórmula 1 volte para a casa que a consagrou. Tirando ela, só sobraria o SBT como opção --e houve, num passado não muito distante, um namoro entre o canal do eterno Silvio Santos e a Liberty Media. A única certeza é que ela continuará na TV aberta.

Esta passagem da Fórmula 1 pela Band fica marcada pela boa audiência, pelo maravilhoso campeonato de 2021 e por outra constrangedora tentativa de terceirização de responsabilidades. É triste ver a imprensa especializada tratar Max Verstappen como um novo Faustão, como se este ou aquele, de alguma forma, tivessem alguma culpa pelo retorno do bispo R.R.Soares ao horário nobre da TV.