*Se você não viu ainda o último episódio de "Succession", procure outra coisa para ler. Aliás, por que você está procurando informações sobre o fim da história em vez de assisti-la? Mude suas prioridades --ou leia o artigo e não encha meu saco depois
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Enquanto o Brasil mira em "Família Soprano" e acerta em "Reba", os americanos com um só tiro acertam os pratos de "Vale Tudo" e "A Próxima Vítima". A HBO, celeiro dos melhores dramas da TV mundial, agora é autoridade no universo das novelas. "Succession" é a maior (e melhor) surpresa de um mercado que parecia preso a dragões e afins.
"Quem sucede Logan Roy?" tem a fisiologia de "Quem matou Odete Roitman?". "Succession" nunca pretendeu ser "Mad Men" ou "Better Call Saul". A guerra fria entre os filhos de Logan Roy, todos bem estruturados e lineares moral e psicologicamente, sempre foi apresentada da forma mais direta possível. Na era do streaming, não há espaço para espetáculos semióticos como a morte de Christoper Moltisanti em "Sopranos", cuja sentença de morte é decretada por uma canção do Pink Floyd. O que os estúdios querem são histórias simples e viciantes. Repleta de traições e conspirações, a família Roy é um convite ao "continuar assistindo" e garantirá números de fôlego a médio e longo prazo.
A era de ouro da televisão americana induziu o público e a crítica a acreditarem que somente os textos literários, como os de "The Wire" e dos dramas grandiosos citados no parágrafo anterior, são meritórios. Pura poltronice intelectual. Gêneros menos sofisticados, como as sitcoms e as novelas, podem entregar textos de qualidade, núcleos bem amarrados e personagens interessantes. Tom Wambsgans tem um pezinho de Marcelo de "A Próxima Vítima", novela de Silvio de Abreu filmada em 1994. O golpe de Shiv em Kendall, disparado o melhor momento desse series finale, é como a banana de Marco Aurélio para o Brasil, no fim de "Vale Tudo". O primo Greg podia ser o mordomo de qualquer folhetim de respeito do Gilberto Braga. E Roman, bem, Roman seria excomungado por todos os jornalistas do UOL.
Já fomos capazes de entregar novelas do nível de "Succession". Não somos mais. Ficamos rebuscados, pasteurizados e covardes. Hoje, nosso negócio é gravar tudo com filtro de cinema, para a interpretação da Jade Picon soar premium, e escrever cenas com lição de moral. Às 18h, a audiência é chamada de fascista. Às 19h, de reacionária. Tudo com a sutileza de um Telecurso 2000.
Tom e Shiv sucederam Logan.
A HBO sucedeu a Globo.