Existem tradições que deveriam ser eternas. Perder o "Bastidores do Carnaval" para a pandemia era aceitável. Abrir mão de tal obra de arte, como fez a RedeTV! em 2023, é imprudência.
Ninguém espera surpresas das coberturas carnavalescas de SBT, Band e Globo. As duas primeiras querem apenas vender patrocínios, o que é do jogo. A última parece empenhada em tornar a festa uma espécie de Telecurso 2000. Excessivamente didática e ensaiada, a folia global é limpa como a tesoura de unha de um podólogo. Quem corria por fora, honrando a verve popular da Manchete, era a RedeTV!
Alguma nudez, muita correria, celebridades bêbadas, vinhetas renderizadas em computadores de 1998, Nelson Rubens vestido de garçom, Léo Áquila decifrando Inês Brasil, Monique Evans julgando as fantasias do Gala Gay. O "Bastidores do Carnaval" reunia mais elementos-surpresa que a novela "Mutantes". Faltava harmonia, sobrava graça.
Dizem que o politicamente correto impediria a RedeTV! de promover um "Bastidores do Carnaval" em tempos de pronome neutro e marchinhas problematizadas. Besteira. O que falta à TV brasileira é a ousadia, a simplicidade e a desarmonia do passado.