A Fórmula 1 não faz mais parte da programação da Globo. A Liberty Media, em movimentação surpreendente, preteriu Disney e SBT para assinar contrato com o Grupo Bandeirantes de Comunicação. Na TV aberta, aos domingos, o público acompanhará as 23 corridas da temporada 2021 e o calendário completo do ano seguinte. Na TV paga, os treinos classificatórios e as provas das Fórmulas 2 e 3. Prato cheio para quem é fã do esporte. Fã de verdade.
A Liberty Media, dona da Fórmula 1, sabe – deve saber – que os 8,9 pontos de audiência obtidos pelo campeonato mundial de 2020 estão muito distantes da realidade da Band. Esse índice, robusto e restrito ao mercado paulista, costumeiramente mais simpático ao automobilismo, reflete muito mais o poderio da Globo, que desde a eclosão da pandemia sofreu pouquíssimas vezes nas mãos das rivais, do que o fascínio do telespectador por Lewis Hamilton e Max Verstappen.
A chegada da Copa Libertadores ao SBT é um bom exemplo de choque de realidade. Palmeiras x Santos anotou pico de 32 pontos na noite de sábado – índice inédito para o dia e o horário – em São Paulo e fez 16 de média no PNT. Ficou em 1˚ lugar, mas não repetiu os índices da Globo em 2019. E nem poderia. Nas últimas décadas, o torneio sul-americano concorreu sozinho. Neste ano, duelou até com o Big Fone do BBB 21. Outro cenário, outra dinâmica de público e outro modelo de faturamento, com os donos dos direitos deixando de ser meros mercadores para atuarem como parceiros das redes de TV, financiando diretamente suas cotas de publicidade.
A priori, a Globo não deve mexer na grade de programação em dias de corrida. Filmes melhores podem surgir no "Corujão" para barrar uma ou outra prova na Ásia, mas nada além disso. Com o "Esporte Espetacular" estabelecido nas manhãs de domingo, o temor por um revés ficaria restrito ao GP do Brasil. Se a Band conseguia 8 pontos de pico com as corridas da Indy no Sambódromo, em Interlagos pode alcançar muito mais.
O dólar galopante, a crise econômica, a pandemia, as mudanças no mercado publicitário e a inflação nos direitos de transmissão dos eventos esportivos obrigaram as TVs a reverem seus modelos de gestão. Do fim da parceria entre ESPN e UEFA ao súbito desencanto da Conmebol com a Globo, abundam exemplos de conglomerados que tiveram de esvaziar o portfólio para manter o equilíbrio financeiro. A tendência é que esse fenômeno seja acentuado nos próximos anos, com campeonatos tradicionais migrando para outros canais e plataformas. Bom para o público. Bom para o mercado.