Querem problematizar o "vai tomar no cu"

Criatividade é tudo na imprensa contemporânea. Tomem como exemplo o BuzzFeed, que rompeu com a mesmice ao dar um toque sociológico num arranca-rabo em que MC Gui, participante de "A Fazenda", mandou um colega de confinamento "tomar no cu".

"Está na hora de ressignificar o que é xingamento para tantos. Muitos homens gays tomam no cu. Para muitas mulheres também. Para eles e elas, é uma delícia. Portanto: desde quando mandar alguém fazer o que lhe dá prazer é ofensivo? A ofensa está embutida no significado atribuído por MC Gui a 'tomar no cu', como se fosse algo que atentasse contra a dignidade ou a masculinidade. Não é", escreveu o site, que era surpreendentemente menos imbecil quando publicava listas e gifs.

Eu tento entender a cabeça dos justiceiros sociais do Twitter, mas falho miseravelmente. Na minha enorme cabeça, é impossível alguém ser, ao mesmo tempo, adepto da linguagem neutra, maior imbecilidade da sociedade depois do cartão azul inventado pela Federação Paulista de Futebol na década de 1990, e inimigo do mais orgânico e instintivo xingamento do nosso vocabulário. Felizmente, a maioria da população está ao meu lado.

Quem enxerga homofobia no imponente e candente "vai tomar no cu" ignora o caráter universal da expressão. Mulheres, homens, travestis, gays, negros, brancos... todos já mandaram algo ou alguém fazê-lo, seja para manifestar êxtase ou revolta. O Safari, se pudesse falar, certamente bradaria "Ah, bicho, vai tomar no cu! Assina HBO Max e perde tempo com isso?" enquanto eu lia o artigo do BuzzFeed. É algo real, verdadeiro, honesto, que tem a ver com tudo –menos com a orientação sexual do alvo.

Passou da hora da esquerda tradicional mandar a esquerda identitária tomar no cu.