BuzzFeed publica informações sem apuração para criar rixas e impor narrativas

A máxima "o leitor que apure a informação" parece ser a tônica do BuzzFeed. Na última semana, a filial brasileira do maior portal de listas e gifs do mundo traduziu o artigo "23 coisas horríveis que já aconteceram com mulheres no trabalho", publicado pela jornalista americana Essence Gant.

O texto, tristemente panfletário, mescla situações factíveis (remuneração desigual, cobranças estéticas) com fanfics dignas de indicação ao Globo de Ouro de melhor roteiro original.

O relato mais fantástico, selecionado no fórum do BuzzFeed, é o da professora de matemática "ctmviewer". Ela sustenta que o colégio que a empregava reduzia a nota das alunas em 60%, "para que a média mostrasse os alunos do sexo masculino com uma nota melhor".

"Eu toquei no assunto com uma colega que ensinava inglês, e ela me disse que recebeu a mesma orientação. Ela também me disse que a escola sempre operou desta forma e outras escolas no país faziam a mesma coisa. Eu disse ao vice-diretor que me recusava a reduzir a nota das alunas injustamente... e fui demitida", lamenta.

Jornalistas recebem pistas falsas desde o tempo da caixa postal. O tempo de apuração dedicado às cascas de banana espalhadas nas redações é proporcional à qualidade do material enviado. O blá-blá-blá da professora anônima é muito bom para estender a narrativa progressista do machismo, da intolerância entre homens e mulheres, mas não é minimamente coerente. Vale para a (pobre) guerra cultural que vivemos. E só.

As redações têm investido muito no contato com as redes sociais e mergulhado de cabeça nas agências de fact-checking. Muito melhor seria ignorar as bolhas - com inclinações ideológicas muitas vezes desconhecidas - alojadas no Facebook e assumir que notícia deve ser apurada antes da publicação, nunca depois.

Aproveitar a confiança dos leitores para ganhar cliques e desinformar é a coisa mais horrível que já aconteceu com o jornalismo.