O "Fantástico" exibiu no último domingo, 25 de fevereiro, uma extensa reportagem sobre as fake news. Para incensar o autoproclamado jornalismo profissional, a revista eletrônica entrevistou estudantes e professores de duas universidades federais, o presidente do TSE, Luiz Fux, e um homem com voz de pato ligado às agências de "contrainformação" que espalham mentiras nas redes. Felipe Santana, correspondente da Globo em Nova York, finalizou a salada russa com um bizarro tutorial sobre boatos e checagem de fatos.
Não há, obviamente, nada de amoral no combate às notícias falsas. O próprio Teleguiado publica alertas sobre as bobagens que circulam no Facebook. De Marilena Chauí a Pabllo Vittar, ninguém está a salvo da burrice dos militantes, sejam eles esquerdistas ou direitistas. São as intenções e omissões da imprensa mainstream que enfraquecem essa pretensiosa cruzada.
As empresas de comunicação sempre publicaram informações incorretas. Antes, esses erros eram assumidos e lamentados. Hoje, por um misto de oportunismo e burrice, são usados para atrair leitores. Não é possível um profissional do Estadão ser incapaz de identificar a malandragem de um coletivo estudantil. Assim como não é aceitável um colaborador da Folha ser enganado por um fã do "Big Brother Brasil". Os autores dessas notas sabiam o que estavam fazendo. E não havia ninguém responsável - ou razoavelmente consciente - para apontar o absurdo que é trocar década de credibilidade por um pico de audiência que dura, no máximo, 24 horas.
Curiosamente, no campo televisivo, é justamente o "Fantástico" o programa que mais explora o besteirol cibernético. Meses atrás, o detetive virtual do programa investigou o vídeo do "filho do Homem-Aranha" - nem o humorístico "Encrenca", que exibe imagens compartilhadas no WhatsApp, chegou a tanto. Fact-checking é isso? Não, não é.
Em 2003, Gugu deu muitos passos para trás ao exibir uma entrevista forjada onde dois integrantes do PCC ameaçavam de morte autoridades e artistas. As respostas excessivamente didáticas dos figurantes invocaram o falecido jornalista Marcelo Rezende, que demorou menos de uma semana para desvendar a farsa. O agente das "fake news" entrevistado pela revista eletrônica, por uma insondável coincidência, foi ainda mais colaborativo que os meninos do "Domingo Legal" na hora da gravação. Além de entregar, na maior emissora do país, as táticas de seu próprio esquema criminoso, fez questão de usar o vocabulário do "Sessão da Tarde" nas explicações - quantos anos tem um guerrilheiro virtual que usa as expressões "jogo de cachorro grande" e "coloca a pulga atrás da orelha"? 74?
O ministro Luiz Fux, atual presidente do TSE, disse ao "Fantástico" que não pretende assistir passivamente esses "ilícitos" e que um comitê de inteligência foi criado para identificar e punir os disseminadores de notícias falsas.
As boas intenções, no Brasil, são sempre fake news.