Milly Lacombe está acampada na porta do quarto de Neymar

Milly Lacombe não consegue torcer para o Brasil. Até aí, nada de anormal. Muita gente não torce para o Brasil. Tem quem desaprove a postura defensiva do Tite, tem quem goste do futebol europeu e até da Argentina. Faz parte. O que é estranho é misturar política com futebol —e estigmatizar um grupo que, a exemplo da maioria silenciosa do nosso país, parece dar de ombros para a política.

“O Neymar é uma figura que simboliza muitas coisas ali, mas não é o único. Essa é uma seleção de alienados políticos ou de defensores da extrema-direita. Até o Tite, que é um cara bacana e já se posicionou socialmente em outras épocas, dessa vez está no muro”.

A celebridade Neymar é construída a quatro mãos. Há o homem que gosta de compartilhar suas conquistas esportivas, amorosas e financeiras e há o cidadão interpretado e reinterpretado pela mídia. A vida instagramável cria essa dissociação que estrangula a máxima “sou responsável pelo que falo, não pelo que você entende”. Agora, por culpa dos algoritmos, precisamos gerenciar o que pensam de nós. Ser celebridade é menos divertido hoje do que em 2012.

Neymar não estava em campo contra a Suíça —daí a dificuldade para ganharmos o jogo. Mesmo assim, Milly Lacombe o inseriu na jogada ensaiada da sinalização de virtude. O camisa 10 é culpado por todos os males sociais, políticos e ideológicos de um grupo. Males esses que desapareceriam instantaneamente se eles comemorassem um dos gols sobre a Sérvia fazendo o L.

Enquanto milhares de bolsonaristas acampam em frente aos quartéis do exército pedindo golpe militar e vida eterna a um mentecapto covarde, incapaz e irresponsável, Milly Lacombe ergue sua barraca na porta da concentração do Brasil. A exemplo da extrema-direita, ela visualiza um país de chroma-key, que não se reconhece nas urnas ou nas ruas. São contraposições ideológicas de um país doente.

É a extrema-politização. A extrema-ignorância.