Sociedade

Desculpas esfarrapadas de Ipec e Datafolha lembram negacionismo bolsonarista

Márcia Cavallari, diretora do Ipec, atribuiu aos eleitores a responsabilidade pelos erros do fim de semana. Disse ela ao UOL News: "a pesquisa não é um oráculo, não tem poder de projetar resultado futuro. Está ali diagnosticando um momento, medindo a opinião das pessoas, que muda ao longo do processo [eleitoral]". Luciana Chong, manda-chuva do […]

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Márcia Cavallari, diretora do Ipec, atribuiu aos eleitores a responsabilidade pelos erros do fim de semana. Disse ela ao UOL News: "a pesquisa não é um oráculo, não tem poder de projetar resultado futuro. Está ali diagnosticando um momento, medindo a opinião das pessoas, que muda ao longo do processo [eleitoral]".

Luciana Chong, manda-chuva do Datafolha, repetiu a tese, atribuindo a um "movimento de última hora" a pataquada.

Márcia Cavallari e Luciana Chong devem, a exemplo de milhões de brasileiros, rejeitar o negacionismo de Jair Bolsonaro. Agem, entretanto, exatamente como o presidente da República neste caso. Entre domingo e a tarde de terça-feira, os institutos mais famosos do Brasil culparam tudo e todos: os bolsonaristas, os ciristas, o voto contraditório, a interpretação de texto dos leitores e até a semântica. Para eles, os muitos pontos percentuais tolhidos de Bolsonaro são uma gripezinha. E o físico de atleta pertence aos borbotões da estatística.

Não bastasse a falta de transparência de Ipec e Datafolha, chama a atenção dos eleitores e espectadores a seletividade dos institutos. Eles só falam do erro menos aparente, que é o da eleição presidencial. Ninguém topa abordar a vergonha que foi a pesquisa Ipec do governo do Rio Grande do Sul. Leite tinha 40% na última coleta do ex-ibope, contra 30% de Onyx e 20% de Pretto (PT). Terminou em segundo lugar, com 26%, praticamente empatado com o esquerdista, e bem atrás do bolsonarista. Isso também foi culpa da "onda bolsonarista"? Que diabo de bolsonarista corre votar em petistas? E o que dizer da Bahia, que deixou ACM Neto atrás de Jerônimo Rodrigues, do PT, contrariando outra vez os pesquisadores? Eleitor do Bolsonaro toma cloroquina, mas não tecla 13 na urna.

Os institutos de pesquisa deveriam respeitar a inteligência do eleitor e admitir, de uma vez por todas, que não sabem onde erraram. Mais: assumir que cometeram erros graves, capazes de determinar o insucesso de alguns candidatos --o que aconteceria com Pretto se ele aparecesse em segundo lugar nos levantamentos da semana passada? E com Leite? Eles dizem que não são oráculos quando erram, mas nunca recusaram, na TV e no jornalismo impresso, os elogios que recebiam lá atrás, quando eram capazes de examinar sem filtros a opinião pública.