Quem, em 2007, dissesse que a Saraiva corria risco de falir seria, com razão, chamado de louco de pedra.
Há 15 anos, o modelo das megastores parecia consolidado, bem como o fracasso das mídias digitais. As lojas cibernéticas dos provedores de internet -- o embrião do Spotify, imagine você, era o Terra Rádio -- não enterraram os CDs e o mercado de DVDs seguia em alta. Livro só existia impresso. Não havia previsão de chuva no radar da Saraiva. Só céu azul e sol escaldante.
Tudo pode mudar em 20 minutos, já dizia a BandNews. A Netflix, que em 2007 emprestava DVDs, iluminou o caminho do streaming. As gravadoras, irritantemente senhoras de si, perderam o controle do mercado para a Apple. Nem os livros, que pareciam chegar à Amazon a um custo menor, escaparam da cultura da tela. Com o Kindle, editoras e leitores ficaram na palma da mão de Jeffrey Bezos.
Nesse cenário apocalíptico, quem sobrevive (e cresce) é a livaria que planejou o futuro olhando para trás.
Em franca ascensão, a Livraria Leitura acaba de inaugurar mais duas lojas. Uma em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, e outra em Aracaju. Em comum entre elas, a objetividade. Quem entra em qualquer uma de suas 97 lojas encontra canetas, cartuchos de impressora e jogos de videogame, mas é, antes de tudo, convidado a consumir livros. É a mesma fórmula das livrarias de rua, que aos poucos recuperam espaço na capital paulista. Livrarias existem para atrair leitores. E, para esse nicho, nem sempre o preço é o fator preponderante.
A Saraiva não soube ler o mercado.