Pabllo Vittar, Ratinho e a matemática de Tony Goes

Tony Goes não gostou do vídeo em que Ratinho tira sarro do gay cangaceiro da minissérie "Entre Irmãs". Disse que o pedido de desculpas do apresentador "num mundo ideal" é muito pouco, mas que tudo ficará por isso mesmo, "porque ele talvez tenha atingido seu objetivo maior: voltar aos holofotes, já que seu programa não tem mais muita repercussão".

É engraçado ler Tony Goes distribuir atestados de repercussão no F5, mas vamos lá: Ratinho, de segunda a quinta, marcou 8,5 pontos de média em São Paulo. Deixou o SBT em 2º lugar no ibope e entregou dois dígitos de share para as atrações que o precederam no período. Quem tem mais repercussão? Ratinho na TV aberta ou Pabllo Vittar na lacrosfera?

Tony Goes sustenta que as piadas contadas por Ratinho desde 1998, quando a imprensa era mais criteriosa, servem para disfarçar a homofobia dos brasileiros. O mesmo raciocínio permite inferir que Ary Toledo conta piadas de português para vocalizar a xenofobia do nosso povo. E que as piadas de Fabio Porchat sobre sapatênis merecem um ato de repúdio da associação dos fabricantes de calçado de Franca. Para o colunista, até a liberdade de expressão é um problema. "É comum, por exemplo, ouvir que o problema de Pabllo Vittar não é ela ser uma drag queen fechativa, mas sim o fato dela cantar mal", diz.

Pabllo Vittar canta mesmo muito mal.Como cantavam mal as estrelas da música pop da década de 2000. Pabllo Vittar não é nossa Whitney Houston, como muitos tentaram pregar nesta semana. É, no máximo, um protótipo dos candidatos do concurso de transformistas apresentado por Bolinha em 1980. A diferença é a classe social. Bolinha e seus artistas conversavam com o povão. E a elite intelectual tupiniquim não suporta conversar de igual para igual com quem está abaixo de sua casta.

O mundo ideal de Tony Goes é o mundo em que só ele tem razão.