O problema é o WhatsApp ou a imprensa?

A imprensa adora culpar o WhatsApp e as redes sociais pelos alarmantes níveis de desinformação da sociedade. Curiosamente, boa parte da imprensa não age muito diferente dos disseminadores de boatos que solapam a democracia e amassam a liberdade de expressão.

Peguemos como exemplo o portal Metrópoles, que em junho deste ano sofreu tentativa de censura estatal. Impressionado com a viralização de um vídeo porcamente editado de "Politicamente Incorreto 2018", show de Danilo Gentili, ele escolheu repercutir deste jeito o "caso".

Quem lê a manchete - e cada vez menos gente lê algo além da manchete - pensa que o comediante falou aquilo em seu programa de TV ou em uma entrevista séria. Não é o caso. A frase, realmente impactante, compõe uma esquete humorística.

A piada é boa? A piada é ruim? Nunca haverá unanimidade. O público e os analistas têm o direito de avaliar tudo o que é apresentado pelos artistas e expressar sem intimidações seu apreço ou desdém. O que está fora de cogitação é a má-fé. E jornalista que ignora a diferença entre piada e depoimento só pode ser mal-intencionado - improvável alguém ser burro a ponto de confundir ficção e realidade assim.

Além de retirar de contexto a declaração de Gentili, a redação - por que os jornalistas não assinam mais suas publicações, hein? - do Metrópoles omitiu o complemento da piada, embedando o mesmo vídeo editado e pulverizado na internet. É assim que a autoproclamada imprensa profissional pretende combater a boataria e a baixaria das redes sociais? Ou o combate às "fake news" é mesmo parcial, circunstancial?