O mérito de Arnaldo Jabor
Conheci o Arnaldo Jabor colunista antes do Arnaldo Jabor cineasta. Suas participações no "Jornal da Globo" prendiam minha atenção muito mais pelo cabelo, que me lembravam o Rolo, da Turma da Mônica, do que pelo conteúdo em si. Foi na adolescência, folheando o Estadão nas atividades do colégio, que passei a levá-lo a sério.
Em 2003, raros eram os colunistas que se atreviam a questionar o otimismo da sociedade e de parte da imprensa em relação ao governo de Lula. Jabor foi um dos primeiros a se insurgir contra esse oba-oba. Se houvesse YouTube e WhatsApp no mensalão, seus comentários no "Jornal da Globo" valeriam ouro. Ele era visto e ouvido. Mais do que seus filmes, que voltaram a frequentar o Canal Brasil a reboque do sucesso na TV.
Mais velho, escarafunchei o acervo de Jabor na Folha, onde começou a carreira de colunista. Entre artigos críticos a Collor e simpáticos a Fernando Henrique Cardoso, reuniu material para publicar duas coletâneas: "Os canibais estão na sala de jantar" e "sanduíches de realidade". Outros seis livros deixariam as gráficas nos anos seguintes, quase todos nessa pegada. O mais famoso deles é "Amor é Prosa, Sexo é Poesia", ironicamente publicado em 2004, ano em que a política assumiu de vez a mira de sua metralhadora de opiniões.
Arnaldo Jabor morreu esta terça-feira, aos 81 anos. Morreu sem tapar a mira e sem se render ao que não acreditava, coisa rara nesses tempos modernos, em que não há amor, sexo, prosa ou poesia.