Nelson Piquet fez uso da "Globo Lixo" quando era conveniente
Nelson Piquet, o piloto antiestablishment, esteve ao lado de Jair Bolsonaro, o político antiestablishment, nesta sexta-feira. Durante a cerimônia de inauguração da ponte do Abunã, o tricampeão mundial de Fórmula 1 não resistiu ao chamado do púlpito e deu um recadinho maroto para a Globo.
"Nós temos certeza que a "Globo Lixo" não vai mostrar nada disso aqui", provocou, para delírio da claque bolsonarista.
Jair Bolsonaro é tratado como um fenômeno digital que independe da TV para disseminar suas estultices. Isso é papo de marqueteiro digital. Nenhum candidato teve mais exposição na telinha que o brucutu neoconservador nesses últimos anos. Antes do atentado de Adélio Bispo, ele era figurinha carimbada em programas de auditório. Depois do crime, permaneceu horas a fio em destaque nas maiores redes do país -- inclusive a "Globo Lixo", que cobriu tudo de maneira exemplar. Horário eleitoral vale pouco. Na mão do PSDB, ainda menos.
Nelson Piquet é outro que não pode reclamar da Globo. Mesmo durante o auge da "Senna Mania", Galvão Bueno e Reginaldo Leme nunca deixaram de creditá-lo como o gênio do automobilismo que é e foram determinantes para a reforma da imagem de Nelsinho Piquet quando revelaram ao mundo o Singapuragate. O furo, exibido na emissora a pedido do Nelsão, mexeu com a imprensa mundial e obrigou até o "New York Times", normalmente avesso à Fórmula 1, abrir espaço para o escândalo. O impacto seria o mesmo se Roberto Cabrini, jornalista competente e com passagem pela categoria, divulgasse a armação em um programa da Record ou do SBT? Claro que não.
A Globo, como qualquer grande empresa de comunicação, tem nódoas em sua história. Duas delas, depois de muitas reclamações, ganharam verbetes no "Memória Globo". Não sabemos quais coberturas merecerão retificação no futuro, mas é seguro dizer que nenhuma delas envolverá Nelson Piquet ou Jair Bolsonaro. A implicância do piloto é pura rabugice. A do presidente, puro marketing.