O crescimento de Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto à presidência dos Estados Unidos arruinou as faculdades mentais dos analistas das revistas "The Atlantic" e "GQ".
Desde a participação do candidato republicano no "Tonight Show", ambas as publicações têm atribuído a Jimmy Fallon a função de relações públicas do magnata. O crime do comediante? Brincar com o entrevistado. Algo realmente inusitado no universo dos late shows.
O cabelo de Donald Trump atrai a atenção do público mundial - não é uma questão local - há pelo menos doze anos, quando "O Aprendiz" estreou na TV. Do "Saturday Night Live" ao "Show do Tom", todos os programas humorísticos aproveitaram aquele amontoado de laquê para fazer graça. Frente a frente com a lenda, Fallon não traiu seu instinto: desarrumou o penteado de seu convidado.
Para a "GQ", a decisão de Fallon foi constrangedora por ter equivalido à humanização de um ditador. O veredito esbarra em duas questões fundamentais. Um bom late show (ou talk show) precisa tirar os entrevistados da zona de conforto. Sem ações de palco e esquetes filmadas, todos virariam cópias desagradáveis do "Larry King Live". Por fim, a tal humanização só ocorreu porque Trump aceitou a brincadeira. Se ele tivesse recusado, o redator trabalharia a grosseira do republicano e até elogiaria o apresentador.
A "The Atlantic" foi mais cínica e acusou Fallon de acelerar a fusão "entre o entretenimento e a indústria das campanhas eleitorais", fator fundamental para a "ascensão de Trump". Tal posicionamento ignora o histórico do republicano no showbizz e as campanhas de Barack Obama, repletas de oba-oba e tapinhas nas costas. Por que o candidato democrata pôde sorrir na TV? Por que o candidato republicano não pode?
Donald Trump tem chances reduzidas de vitória. Apesar do empate com Hillary Clinton no cenário que abarca o partido libertário e o partido verde, vai muito mal nos estados mais influentes do colégio eleitoral. Aconteça o que acontecer, deixa um recado importante para o partido republicano. Os democratas não toleram concorrência na mídia. E acusaram o golpe.