A partir de amanhã, jornalistas de Folha e Globo estarão livres das ameaças físicas e verbais dos bolsonaristas que praticamente acampam no Palácio da Alvorada. Inconformadas com o desleixo do Gabinete de Segurança Institucional, que nada faz para proteger os profissionais de imprensa, as empresas decidiram suspender o envio de equipes ao local. Decisão fantástica, mas um tanto tardia.
Não é de hoje que os profissionais de imprensa são usados como "escada" por Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Em quase 18 meses de governo, foram raras as oportunidades em que o humorista disfarçado de presidente disse algo de útil. As passagens têm sempre a mesma finalidade: chorar as pitangas, reclamar da Globo e demonstrar força - como se mandar mulheres calarem a boca fosse sinal de valentia ou algo do tipo. Para colher esse tipo de material, convenhamos, não é necessário expor tantos profissionais. Um cinegrafista daria conta do recado.
Em fevereiro, o Teleguiado pediu atitudes enérgicas do Grupo Folha contra os rompantes totalitários do governo. À época, Patrícia Campos Mello era o alvo da claque bolsonarista.
"Quando os assessores do premiê Boris Johnson quiseram definir quem poderia – e, mais importante, quem não poderia – participar de uma coletiva de interesse geral, a imprensa britânica endureceu. A Folha de São Paulo não pode exigir dos concorrentes a adesão a um boicote semelhante, mas tem autonomia para ignorar as inócuas entrevistas coletivas do presidente e se concentrar no que realmente importa: a fiscalização do Poder".
A Folha continua sem poder exigir a adesão dos concorrentes ao boicote tardio, mas tem a companhia mais desejada do mercado: a TV Globo. Não estranhem se outros veículos mudarem de ideia. A Band já aceitou a ideia.
Sem escada, não tem espetáculo.
Como sobreviverá o governo do pão e circo sem o pão e sem o circo?