A aula de jornalismo de Clóvis Rossi
Para homenagear Clóvis Rossi, que faleceu na última sexta-feira, a Folha de São Paulo transcreveu a entrevista que ele concedeu para a turma de 2016 do curso de jornalismo sênior da Barão de Limeira. O Teleguiado republica abaixo alguns trechos dessa aula magna.
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“Fiz durante muito anos a cobertura de política brasileira, até o ponto de me tornar, mais do que cético, cínico a respeito do mundo político. Acho que é um mundo absolutamente interessado em si próprio, que trabalha para si próprio e que não tem projeto de país, tem projeto de poder. Isso vale para a esquerda e para a direita. Por isso, dei graças a Deus quando me transferiram para a página internacional, porque estava se tornando penoso conversar com aquelas pessoas, fazendo de conta que estava interessado no que elas tinham a dizer”
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“Do meu ponto de vista, a coisa mais fácil do mundo é fazer jornalismo, depende apenas de quatro verbinhos simples, que todo mundo tem de nascença: ler, ver, ouvir e contar. Quem conseguir dominar esses quatro verbinhos com competência e com talento faz bom jornalismo”
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“Você tem que duvidar de tudo o que te dizem. Agora, ser cínico te complica a vida, porque você descrê de tudo aquilo que está noticiando”
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“Tenho 53 anos de profissão, fiz tudo que podia fazer, desde radioescuta, no tempo em que não havia videotape. Comecei no Correio da Manhã, cobrindo a conspiração que desaguaria no golpe de 64. Eu sou antigo. Passei a noite de 31 de março rodando no DKW azul do meu pai entre o palácio dos Campos Elíseos, que era sede do governo paulista na época, até o comando do II Exército, onde o general Amaury Kruel ficava decidindo se haveria ou não a conspiração, contando canhões”
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“Toda a grande mídia embarcou na candidatura dele, porque era o único candidato capaz de derrotar o monstro 'Brizula', que era a mistura do Brizola com o Lula. Um erro dramático”
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“Eu escrevi mais de uma vez que a esquerda não conseguiu sair dos escombros do Muro de Berlim. Se tiveram alguma ideia antes, foi com Karl Marx no século retrasado. Desde então, você não vê, especialmente no Brasil, uma única ideia dos filósofos ditos de esquerda que se aproveite. Eu não sei o que a esquerda quer fazer, até porque eles não dizem. Precisa aparecer alguém que diga”