Superman chega judiado aos 80 anos

"Não é um quadrinho excelente, não é muito bem desenhado, mas a mitologia. A mitologia não é só excelente, é única… Uma característica da mitologia do super-herói é que existe o super-herói e existe o alter-ego. Batman é, na verdade, Bruce Wayne, Homem-Aranha é, na realidade, Peter Parker. Quando o personagem acorda de manhã, ele é Peter Parker. Ele precisa colocar uma fantasia para se tornar Homem-Aranha. E é aí que o Superman se destaca. O Superman não se tornou o Superman. Quando ele acorda de manhã, ele é o Superman…” Assim segue o monólogo de Bill, interpretado por David Carradine, em Kill Bill Vol.2, de Quentin Tarantino. Criado em 1933 por Jerry Siegel e Joe Shuster, Superman é um alienígena que apresenta duas versões da humanidade. Ele acredita na bondade das pessoas, mas sua caricatura de terráqueo – Clark Kent – é frágil e covarde.

O Superman representa a esperança em um mundo sem injustiça, sem ganância, sem corrupção ou morte, uma promessa de tudo que a América almejava ser como democracia. Ainda que consciente das falhas da humanidade. Em sua versão cinematográfica mais famosa (e, talvez, a melhor), Jor-El, interpretado por Marlon Brando, diz: “Mesmo criado como um humano, você não é um deles. Eles podem ser um grande povo, Kal-El, eles querem ser. Só lhes falta a luz para mostrar o caminho. Por este motivo, acima de tudo, essa capacidade de fazer o bem, é que eu enviei você a eles… Meu único filho.” A alusão cristã é clara, Superman foi enviado a Terra para nos amar e nos salvar, apesar de nossos pecados.

Presente nos cinemas desde 1941, foram muitas as versões do herói. Foi a adaptação de 1978, contudo, dirigida por Richard Donner e com Christopher Reeve no papel principal, que marcou gerações de fãs. Desde então, houve a tentativa de resgatar o personagem em 2006, com filme dirigido por Bryan Singer e Brandon Routh como Superman, e a versão atual concebida, sobretudo, por Zack Snyder e com Henry Cavill como protagonista. O ator Nicolas Cage declarou ao Entertainment Weekly que o projeto que Tim Burton fizera na década de 1990, com Cage escalado como Superman, seria melhor do que os filmes dirigidos por Singer e Snyder. Nunca saberemos.

Atualmente, Superman sofre nas mãos da DCEU, produtora desesperada para emplacar franquias tal qual sua principal rival, a Marvel, mas sem o cuidado devido com personagens tão queridos pelo público. Com a exceção de "Mulher-Maravilha", quase todos os filmes da DC (que adquiriu os direitos da HQ em 1938 - daí a menção aos 80 anos) têm sido uma decepção, tanto de crítica como de bilheteria. Desde o ridículo "Batman vs Superman - A Origem da Justiça” – em que um conflito sem sentido é resolvido na base de uma coincidência – ao catastrófico “Liga da Justiça”, há a tentativa de tornar o herói mais sombrio, dando uma falsa aparência de complexidade, tudo para emular o sucesso merecido que Christopher Nolan teve com sua trilogia Batman. O grande problema é que Superman não é sombrio, não lhe cabe o mesmo tratamento que é dado a um vigilante vestido de morcego cuja principal motivação é vingar a morte dos pais.

Em sua concepção mais pura, Superman é e sempre será um símbolo de esperança e de amor pela humanidade. Perdoe, Jor-El, eles não sabem o que fazem.