Muito político e pouco técnico, Globo de Ouro é caixa de ressonância da imprensa ativista
A edição 2018 do Globo de Ouro ficará marcada pelos vestidos pretos das atrizes que mudaram de atitude em relação a Harvey Weinstein e todos os assediadores denunciados nos últimos meses - é ingenuidade imaginar que comentários sobre esses crápulas não corressem à boca pequena em Hollywood - e pelo ativismo exacerbado e injustificável dos seus jurados.
"Big Little Lies" é a série mais folhetinesca da história da HBO. Repleta de mistérios, reviravoltas suspeitas e núcleos rasos, sobrevive a seis episódios para, placidamente, morrer na praia, com suas heroínas desfilando de mãos dadas na areia. Receberia bolinha preta do público e da crítica mainstream dez anos atrás, quando a histeria passava longe das redações. Recebeu quatro dos quatro prêmios que disputara no escopo das minisséries: melhor minissérie, melhor atriz em minissérie, melhor ator coadjuvante em minissérie e melhor atriz coadjuvante em minissérie.
Os direitos das mulheres são inalienáveis. Homens violentos, sexual, física ou psicologicamente, não podem ser isentos de processos civis e criminais. Quanto mais mulheres denunciarem esses crimes, melhor. A submissão da cultura pop a um problema que não pertence a nós, espectadores, é que é lamentável. A violência doméstica é um tema fantástico para roteiros densos, envolventes. Não pode, porém, ser entendida como ponto de partida. Hoje, infelizmente, as séries começam a ser desenvolvidas a partir do "merchandising social". Lixo puro.
O feminismo não encobriu a sanha dos jornalistas - o Globo de Ouro é definido pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood - por outras causas que lustram o ego e o virtuosismo de um mercado que adora criar regras, desde que elas não recaiam sobre si. A equiparação racial é a única justificativa plausível para Sterling K. Brown ganhar de Bob Odenkirk o prêmio de melhor ator em série dramática. A distância enter "This Is Us" e "Better Call Saul" é a mesma distância entre Bertioga e Saint-Tropez. A primeira é um novelão de TV aberta. A segunda é a prequel de "Breaking Bad".
As séries estão cada vez mais sujeitas ao ativismo devido à inversão dos públicos do cinema e da televisão. Na década de 1970, os adultos assistiam aos grandes clássicos na telona, enquanto os jovens ficavam em casa, rindo com os desenhos da Hanna Barbera. Agora, são os adultos que ficam em casa, indignados e com o controle remoto na mão, enquanto os jovens assistem, com todas as cores e dimensões a que têm direito, seus heróis prediletos. Em suma, "Lady Bird" e "Três Anúncios Para Um Crime" não saíram de mãos abanando graças à impopularidade dos dramas.
O Globo de Ouro 2018 atraiu 19 milhões de telespectadores na noite de domingo, queda de 5% na comparação com 2017. O público quer entretenimento, não fingimento.