A deputada federal Alice Portugal, do PCdoB, apresentou um projeto de lei que limita em 15% a presença de filmes estrangeiros nas salas de cinema do Brasil.
A exemplo de outros especialistas que não sabem fazer contas nem produzir filmes, a parlamentar dá a entender que os blockbusters - o texto entregue à Câmara cita "Jogos Vorazes - são os culpados pelo fracasso comercial e intelectual de nossos bravos produtores.
O problema do Brasil nunca foi a falta de filmes, mas sim o excesso. Em 2014, os títulos tupiniquins emplacaram 179 vezes no circuito comercial, crescimento de 7% em relação ao ano anterior. O que aconteceu com a renda? Caiu 25,5%, de R$ 297 milhões para R$ 221 milhões. É pior que o 7 a 1. É o 7 a -25.
A receita do fracasso está no modelo adotado pela própria Ancine, a Agência Nacional do Cinema. Lançado em 2014, "Jogo de Xadrez" recebeu a primeira autorização de captação de recursos em 2006, quando o título original da fita era "Sem Saída". Um ano depois, solicitou o primeiro pedido de prorrogação do benefício, reajustado para R$ 805.133,19. O "Boyhood" brasileiro atraiu 521 pessoas e arrecadou R$ 6.707,00. Ou seja, fez menos público e renda que uma quermesse.
Por muito tempo, o cinema foi tratado como um fetiche pelos brasileiros. As indicações ao Oscar de melhor filme estrangeiro entre 1994 e 1999, logo após a chamada retomada, criaram a falsa impressão de amadurecimento do setor no país. Os sucessivos fracassos de crítica e público levaram produtores acomodados e seus defensores a imprimir recibos de responsabilidade social para o setor, atribuindo ao Estado papéis tresloucados, como o dever de "impedir que o acesso do cidadão brasileiro à cultura cinematográfica nacional seja obstado por distorções de mercado", também defendido na proposta de Alice Portugal.
O cinema brasileiro não requer tutores. Requer talentos. E eles não são encontrados quando o público é impedido de ver um blockbuster para obrigatoriamente escolher entre a comédia da Globo e o roteiro "cabeça" sobre pobreza.