Cinema

"Rampage" destrói, mas não entretém

Por onde começar ao falar de um filme em que um gorila, um lobo e um crocodilo gigantescos destroem uma cidade? É o que estou me perguntando há cinco minutos. Pois bem. "Rampage – Destruição Total" é um filme baseado em um videogame de mais de trinta anos sobre, surpresa, animais gigantes que destroem cidades. […]

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Por onde começar ao falar de um filme em que um gorila, um lobo e um crocodilo gigantescos destroem uma cidade? É o que estou me perguntando há cinco minutos. Pois bem. "Rampage – Destruição Total" é um filme baseado em um videogame de mais de trinta anos sobre, surpresa, animais gigantes que destroem cidades. O filme, com roupagem moderna e pseudo-científica, é uma espécie de "King Kong", só que feito por Michael Bay – mais animais! Mais destruição! Sem as metáforas ou os valores morais! Na verdade, comparar “Rampage" com Michael Bay é quase uma ofensa ao diretor piromaníaco de “Armageddon" e "Transformers", pois nem mesmo Dwayne “The Rock” Johnson consegue tornar o filme ao menos divertido.

Em Hollywood, Dwayne Johnson vive um momento de sucesso comparável ao de Arnold Schwarzenegger nas décadas de 1980 e 1990, estrelando filmes lucrativos de ação voltados a um público mais família. Em “Jumanji: Bem-Vindo à Selva”, interpretou o típico herói de videogame, com a habilidade especial de "parecer bonitão". Essa noção do próprio ridículo, que deu tão certo em “Jumanji", não está presente em “Rampage”. Em um roteiro dominado por ideias absurdas – como, por exemplo, disparar metralhadoras dentro de um avião em pleno vôo, ou atrair animais mutantes para uma das maiores cidades dos Estados Unidos, de propósito – "The Rock" tem a árdua tarefa de interpretar, com pouca ironia ou tiração de sarro, o papel de Davis Okoye, um ex-soldado, expert em primatas, invejado pelos homens e perseguido pelas mulheres (logo no início do filme, depois de resolver uma situação com um gorila agressivo, a mocinha pergunta, em uma cena bastante vexatória, se ele não poderia lhe mostrar suas "técnicas de submissão” mais tarde).

É mais difícil interpretar um “cara legal” do que alguém com vícios e defeitos, porque não há complexidade. A tentativa dos roteiristas em tornar Davis um pouco menos raso foi fazer com que todos os personagens a sua volta repetissem que ele prefere os animais às pessoas (o que, convenhamos, qualquer menina de quinze anos pode dizer o mesmo no Facebook) – é assim que “Rampage” funciona: nada é mostrado, tudo é explicado de forma bem óbvia e forçada – e, por fim, a misantropia de Davis é curada em um diálogo de dois minutos com uma personagem que acabou de conhecer. Há um desfile de bons atores (Naomi Harris, Malin Akerman, Jeffrey Dean Morgan e Marley Shelton) confinados em papéis imbecis, forçados a fazer o possível com falas como “quando a ciência faz cocô na cama, eu sou o homem que troca os lençóis”. "Rampage" é um filme burro, com uma lógica quase infantil, se não fosse pelas inúmeras mortes que faz questão de mostrar. Há cenas que lembram, por algum motivo esdrúxulo, o atentado das Torres Gêmeas, seguidas pela fala de Kate Caldwell (Naomi Harris): “não acredito que sobrevivemos a isso”.

Filmes do estilo “catástrofe”, como "Independence Day” (1996), “O Inferno de Dante” (1997) ou “Twister” (1996), sofreram um baque óbvio com os ataques de 11 de setembro. “Rampage – Destruição Total” parece querer nos dizer que, tudo bem, sobrevivemos, podemos voltar a apreciar o gênero. Mas pra quê? Esqueça “Rampage" e vá ver “Um Lugar Silencioso”, é melhor.