TV não deu a Senna o direito de morrer
As principais redes de TV do Brasil tornaram a morte de Senna um espetáculo arrastado e apelativo, em que a informação deu espaço para a espetacularização.
Logo depois do plantão em que Roberto Cabrini deu a notícia que “jamais gostaria de dar”, as equipes de jornalismo de Globo e Band partiram para o tudo ou nada. Em frente à casa da família Senna, na capital paulista, repórteres cobravam explicações implausíveis – se os jornalistas que estavam na Itália não tinham informações sobre a batida, por que aquelas pessoas, a milhares de quilômetros de distância, teriam? – sobre o acidente e ensaiavam frases de efeito para emocionar os fãs do piloto.
O “showrnalismo”, infelizmente, dava resultado. Faustão subira de 25 para 40 pontos de audiência. O “Show do Esporte", terceiro colocado nas tardes de domingo, atingira a vice-liderança, à frente do “Programa Silvio Santos”. Exibido pontualmente às 20h00, o “Fantástico” crescera 50%, com média de 51 pontos e picos de quase 60. Naquela noite, quase 80% dos televisores estavam ligados. E a busca por Senna só aumentava.
Entre os dias 2 e 5 de maio, o “Jornal Nacional” ignorou o noticiário político e a resposta do mercado ao recém-implantado Plano Real. Tudo o que importava era a imagem de Senna. Musical com Milton Nascimento, editorial atacando Schumacher, simulações computadorizadas do acidente em Ímola, depoimentos de crianças emocionadas com a morte de Ayrton. A Globo, por quatro intermináveis dias, uniu a central de jornalismo ao Projac. O drama narrado por Cid Moreira e Sergio Chapelin registrou 57 pontos de média e picos de 63.
Desrespeito campeão.