"Totalmente Demais" e a infantilização do público

4584051_x720

Com picos de 38 pontos no ibope da Grande São Paulo, "Totalmente Demais" é um fenômeno para o bem e para o mal.

A audiência da novela é incomum independente do recorte adotado. A leitura contemporânea aponta uma robusta vantagem sobre "Velho Chico", trama das 21h30. A análise segmentada aponta diferença igualmente significativa sobre folhetins da mesma faixa horária exibidos no início dos anos 2000, quando o número de televisores ligados era muito maior.

Esse desempenho acima da média é explicado por dois fatores: o texto acessível, quase ginasial, e a inteligência dos autores Paulo Halm e Rosane Svartman, que captaram a predisposição do público à infantilização de narrativas e valores.

A saga de Eliza é um crossover dos contos de fada da Disney com os romances de banca de jornal. Pobreza, superação, toques despretensiosos de humor, algum merchandising social. Os elementos menos nobres dos roteiros modernos fizeram rodízio nos pouco mais de 170 capítulos da história, interpretada de maneira protocolar por todo o elenco.

Regressões de formato e estilo são inevitáveis em qualquer mercado. A estafa criativa não elege exceções. O problema do Brasil é o ciclo vicioso. Globo, Record e SBT estão muito distantes do padrão da Argentina - que produziu, para todos os efeitos, a excelente série "Epitáfios - e dos demais países da América Latina porque apostam no esgotamento dos velhos formatos, não na execução de novas ideias, que deveriam surgir justamente na TV aberta.

O ensemble show, formato dramático que encampa "House", "Breaking Bad" e "Família Soprano", ganhou fôlego nos canais pagos dos EUA, mas deu seus primeiros passos no espectro gratuito, sobretudo em "Hill Street Blues" e "Twin Peaks". Até hoje existe uma divisão conceitual nas principais redes dos EUA - um dos dramas mais celebrados da última década, "The Good Wife" era exibida na popular CBS. No Brasil, há apenas mesmice.

Protagonista de "Totalmente Demais", Fábio Assunção afirmou a Lígia Mesquita, colunista da "Folha de São Paulo", que "há um cansaço do público em acompanhar tramas mais densas, mais pesadas", porque "estamos num mundo em crise".

Os atores e autores precisam sair do conto de fadas e buscar a realidade.