Sobre páginas de fofoca, Mingau e Danilo Gentili

A gente sabe que ninguém mais faz jornalismo hoje em dia, mas a vida não cansa de nos surpreender. Em meio às emoções que cercaram as primeiras 72 horas de internação de Mingau, baixista do Ultraje a Rigor, banda do The Noite, páginas de Instagram especializadas em celebridades tiraram do bumbum a notícia "Danilo Gentili deixou de seguir o SBT", sugerindo, na base do chutão, que havia algo de errado entre o apresentador e a casa.

Aos fatos: Danilo Gentili já não seguia o SBT. A dedução que as páginas de Instagram especializadas em celebridades tiraram do bumbum era, portanto, descabida. Mesmo assim, vários sites badalados repercutiram a mentira. Afinal, desde domingo, dia em que o Brasil soube do ocorrido com Mingau, os nomes dele e de Danilo passaram a liderar a lista dos assuntos mais recomendados pelas ferramentas que guiam a produção jornalística --antes de tirar as notícias do bumbum, as redações checam serviços de tendências em busca dos termos mais pesquisados no Google e nas redes sociais.

Eu entendo que os portais e os influenciadores busquem assuntos "do momento" para levantar a audiência. O Google Analytics 4 derrubou o número de visitantes dos sites --tem parceiro do UOL matando cachorro a grito por aí-- e a concorrência no Instagram é cruel. Mas existem formas menos desgraçadas para se fazer isso. A CNN Brasil e o G1, por exemplo, limitaram-se a repercutir a mudança na escala de gravações do "The Noite", evitando a sujeira e o clique de araque. Outros sites respeitáveis preferiram falar da carreira do Mingau, que é vasta pra chuchu, para atrair leitores que não conheciam o histórico dele, que vai do Ratos de Porão ao Capital Inicial. Todos eles ganharam cliques prestando um serviço ao leitor. E o melhor: sem espalhar mentiras.

Não espero grande jornalismo de gente pequena. Espero, porém, um pouquinho de respeito. Falam muito da velha mídia, mas, até aqui, só ela soube respeitar Mingau e a família dele. Globo, Record, Band, CNN, GloboNews, CBN, BandNews e outros veículos de rádio e TV têm muito a ensinar aos espertões das novas mídias.