Show da bunda de Anitta na Globo é bom presságio
A bunda de Anitta foi a grande atração do "Show da Virada". Enquanto a Record insistia no "Canta Comigo" e o SBT orava, a Globo devolveu à TV aberta a leveza e a safadeza da década de 1990, com música comercial e muito rebolado. Faltou apenas o bonequinho do Gugu correndo na tela. E o áudio do apresentador: "que que é issooooooooooo?".
Li alguns comentários contrários ao espetáculo abundante de Anitta na Globo. Honestamente, não entendi o mau humor. A TV aberta está pudica, engessada e educadora demais. Faz falta um pouco de entretenimento descartável, sobretudo com gente pelada. Se a Globo investisse mais em shows assim e menos em programas chatíssimos sobre inclusão, o Brasil estaria menos dividido. Não é a política que vai aproximar a gente. É a bandalheira. Luciano Huck deveria ressuscitar a "prova da banheira" já no próximo domingo, a propósito.
Na época da TV aberta "bruta", do sushi erótico e do Latininho, os colunistas de cultura e comportamento diziam que a solução para o Brasil era conscientizar e politizar a população. Nunca os brasileiros falaram de política com a frequência e a intensidade que falam agora. E nunca a qualidade do debate público foi tão baixa. Os jornalistas não sabem quem são os brasileiros. E os brasileiros não sabem o que fazer com o jornalismo --e com o Brasil, o que é mais grave.
Que a bunda de Anitta na tela da Globo inspire a TV aberta a ser TV aberta outra vez, com escândalos, diversão barata e paz espiritual. Que a bunda de Anitta na tela da Globo inspire o Brasil a ser Brasil outra vez.