Quase três décadas depois, David Lynch vinga temporada perdida de "Twin Peaks"
A mais recente safra de "Twin Peaks" representa mais que a continuação da série abandonada em 1991 pela ABC. Representa a vingança de David Lynch à pobreza de espírito da emissora que mais lucrou com o mantra "quem matou Laura Palmer?".
A sequência de "Twin Peaks" preserva a maioria das marcas de David Lynch. A maldade continua representada pela impureza. Os sonhos e as figuras surrealistas receberam ainda mais espaço, perturbando até os fãs acostumados com o estilo violento e provocador do cineasta. Quem perde espaço é o agente Dale Cooper.
Como se quisesse provar algo para a ABC, que impôs a revelação do assassino de Laura Palmer, Lynch abriu mão, temporariamente, de seu personagem mais popular e ampliou o raio de ação da trama - Twin Peaks deixou de ser a capital dos acontecimentos. O importante era o desenvolvimento da história, não a compreensão dos fãs.
A escolha foi catastrófica sob o ponto de vista da audiência, porém artisticamente perfeita. A entrada de Dougie Jones, doppelganger do agente Cooper, coincidiu com a extensão do núcleo do FBI e a dissolução das convicções sobre o livro azul do Major Briggs. As pontas amarradas em 1991 estavam soltas novamente, para serem manejadas sem medo.
A última cena da terceira - e, por enquanto, última - temporada de Twin Peaks mostra o agente Cooper levando a garçonete Carrie Page para a casa onde Laura Palmer cresceu.
Surpreso com a informação de que Sarah Palmer, mãe de Laura, não morava nem nunca havia morado naquele local, Cooper pergunta a Carrie em que ano eles estão e, como resposta, recebe um grito aterrorizante.
David Lynch nunca trai o mistério. Sorte a nossa.